domingo, 13 de dezembro de 2009

Para a Júlia


Houve um tempo em que nós tínhamos um compromisso semanal, diria, quase religioso.
Saíamos para passear juntos em todas as manhãs de sábado.
Só nós dois.
Jamais poderei apagar das minhas retinas aquela cena.

Quase 10 anos depois, sei que a Júlia estava me ensinando a amá-la.
Enquanto eu empurrava o carrinho daquele bebê de olhos arregalados, fica sonhando.
Pensava tudo de bom para ela.
Pensava tudo de bom para mim.
Hoje eu sei que nem todos os planos vão se realizar.
Não importa muito isso.
Como diria o Lulu Santos, as coisas que o desejo espera do amor não têm a obrigação de acontecer.

Amanhã a Júlia faz 10 anos.
Continua linda.
Agora eu sei que o meu desejo é apenas que ela seja feliz.
Não importa como.

Feliz aniversário, filha.
Papai continuará te amando sempre.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Comunicação e Liberdade


Sou jornalista.
Por muito tempo trabalhei em veículos de comunicação.
Continuo jornalista.
Mas acho que desisti dos grandes veículos.
Cansei de ser pago para tentar "construir a opinião pública".

No mês que vem será realizada a Conferência Nacional de Comunicação.
Um dos temas da pauta é a democratização da comunicação.
Prepare-se.
Os grandes veículos vão começar a noticiar que está em curso um projeto para censurar a imprensa, para controlar a comunicação.
De agora em diante, você vai começar a ver manchetes de jornal alarmantes.

Eu sou jornalista.
Para trabalhar em grandes veículos não preciso distribuir meu currículo em muitos lugares.
Apenas 11 famílias controlam os grandes veículos de comunicação brasileiros.

Você quer saber mais sobre isso?
Veja abaixo o vídeo produzido pelo Coletivo Brasil de Comunicação Social.

Garanta a sua liberdade!
Aprenda a se defender dos jornalões e das TVs decadentes.


LEVANTE SUA VOZ (PARTE 1)



LEVANTE SUA VOZ (PARTE 2)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Beijos para a Bibi


Hoje é aniversário da Bibi. Quatro aninhos.
Ela me fez descongelar o blog, depois de uma grande temporada distante de tudo relacionado ao mundo online.

Talvez porque eu esteja longe de casa (viajando a trabalho, como sempre), resolvi falar da Beatriz, como a homenagem de um pai apaixonado.

Ontem à noite, conversei com ela sobre o aniversário, já que não poderíamos soprar velinhas juntos:

- Filhinha, amanhã é seu aniversário, lembra?
- Amanhã?
- Isso...
- É o dia depois deste?

"O dia depois deste": é assim que a Beatriz sempre se refere ao amanhã.
Para ela, o amanhã não pode ser percebido como um conceito abstrato, que tenta nos levar a algo que ainda não existe.

Na cabecinha da Bibi, o amanhã só pode existir em relação ao hoje.
O amanhã só faz sentido se for uma continuação das coisas que existem hoje.

Segundo ela, o amanhã nunca tem a capacidade de trazer para o hoje problemas que ainda não existem.
O amanhã não deseja correr para acontecer logo.

Quem sabe a Beatriz não me ensine a transformar o hoje no momento mais importante.

Feliz aniversário, filhinha!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O amor de uma criança


Relutei em postar uma mensagem sobre a morte de Michael Jackson.
Embora sempre tenha visto nele o mais completo artista da música pop, preferi manter-me em silêncio.

Mas, depois do funeral, me vi obrigado a falar de Jackson. Não propriamente dele, mas da filha.

A cena de Paris, 11 anos, chorando amargamente no funeral, ao falar do pai, me chocou tremendamente. Fiquei comovido ao extremo.

Não, não se trata de falar que a declaração de Paris isentou Michael Jackson das suspeitas que o perseguiram em vida. Não se trata disso. Fui tocado pela emoção sincera de uma criança. Olhando o choro de Paris, pus-me a pensar nas crianças.

Primeiramente, nas crianças que sofrem. Entre as vítimas da opressão, da pobreza ou da perda, as crianças são as que mais sofrem. Nós sabemos fazer as crianças sofrerem porque não consideramos que elas sejam seres já prontos, inteiros, plenos, sujeitos de direitos. Talvez imaginemos que as crianças ainda não tenham a capacidade de sofrer.

Também pensei nas crianças que amam. Paris afirmou, em prantos: "Papai, eu te amo muito". As crianças podem amar genuinamente. E elas tentam nos mostrar isso a todo o tempo.

Por fim, perguntei-me: será que tenho a capacidade de demonstrar a minhas filhas, com a mesma espontaneidade, todo o amor que elas tentam me revelar?

Quero aprender a chorar, como Paris.
Quem sabe, possamos levar a sério o que disse Jesus Cristo: "aquele que não se tornar como uma criança não herdará o Reino dos Céus".

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A fé em jogo


Ao ganhar o título da Copa das Confederações no último domingo, os jogadores da seleção brasileira se reuniram no meio do campo para rezar. Muitos usavam camisas com os dizeres "eu amo Jesus". Essa manifestação explícita de religiosidade foi reprimida pela Fifa, após o protesto de várias federações de futebol, dentre elas a dinamarquesa, cujo presidente afirmou:"misturar religião e esporte daquela maneira foi quase como criar um evento religioso em si".

O que eu penso disso?

Nunca gosto de respostas demasiadamente afirmativas. Deixe-me recorrer a outro fato recente. Há pouco mais de uma semana, o presidente da França, Nicolas Sarkosy fez um discurso histórico contra o uso da burka (aquele véu negro, que cobre as mulheres da cabeça aos pés). Para aqueles que o acusaram de estar se voltando contra um símbolo da religião islâmica (numa suposta hostilidade religiosa), Sarkosy disse mais ou menos o seguinte: "a burka não é um símbolo religioso, mas um símbolo da opressão contra a mulher".

Acertou em cheio o presidente francês. O culto ao relativismo cultural tem nos feito aceitar qualquer atitude "religiosa" como evento privado, ao qual não se deve criticar.

E os jogadores da seleção? Para eles tenho duas perguntas sinceras:
1) Jesus era adepto deste tipo de marketing?
2) Uma propaganda religiosa desvinculada de uma prática coerente gera escândalo ou atrai a simpatia? (Quantos destes caras que estampam camiseta "I love Jesus" não são vistos diariamente praticando ações pouco adequadas a um cristão sincero?)

Sou um cristão convicto. Compreendo que as religiões devam ter seus programas missionários. Mas... como fazer isso?

Talvez Gandhi esteja certo. É dele a seguinte reflexão: "Não creio que uma pessoa possa falar a outras sobre sua fé, especialmente com o objetivo de conversão. A fé não pode ser narrada, tem de ser vivida. É assim que ela se torna capaz de se autopropagar".

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Rasgaram meu diploma


O Supremo Tribunal Federal decidiu ontem que não é mais necessário diploma de curso superior para se exercer a função de jornalista.

O relator do processo, nobre Ministro Gilmar Mendes, apresentou como um dos principais argumentos para a decisão o fato de que o ofício do jornalismo não traz riscos à sociedade, como o ofício da medicina ou da engenharia, por exemplo.

Se uma casa mal construída desaba, pode matar alguém. Uma difamação nos jornais pode ser compensada por uma ação judicial.

Obrigado, Gilmar. Você acaba de confirmar a minha tese: os advogados trazem muitos riscos aos cidadãos. Afinal, é preciso diploma para o exercício do direito.

Falando sério. Como jornalista, não me incomoda a decisão.
Penso apenas que ela deveria ser estendida a outras profissões.

Eu, por exemplo, gostaria de ser juiz de direito. O que é necessário para exercer o ofício? Ética e bom senso para julgar. Será que o juiz precisa mesmo de um curso superior de direito ou isso seria reserva de mercado? Não estou brincando não. Penso assim mesmo.

Poderia listar outras profissões para as quais a exigência de um diploma de curso superior específico não fazem sentido: professor, terapeuta, economista (eles sempre erram as previsões mesmo),agente FIFA (sabia que eles precisam de um curso específico?)

Vamos ampliar esta discussão.
Pelo fim de todos os diplomas!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Eles estão chegando


Eu contei aqui no blog que os meus amigos Xandão e Marilene estavam seguindo para o passado numa viagem a Portugal.
Agora, sinto-me na obrigação de dizer que eles estão voltando.
Antes, mandaram esta foto dos amigos do coração que reencontraram em Lagos.

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas...

Valei-me Deus! Que mesa é esta, que não tem nem pão nem vinho?

Onde já se viu celebrar a comunhão desta maneira?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Machadianas


Decidi fazer uma viagem ao universo de Machado de Assis, lendo/relendo os romances dele.
Por que isso agora?

Primeiro porque ouvi alguns críticos fazendo comparações entre o estilo do Chico Buarque (no último romance, Leite Derramado) e o estilo do Machado.
Confesso que a caracterização do Rio de Janeiro de outrora proporciona algumas semelhanças. Para além disso, não me julgo capaz de emitir opinião.

Depois, sinto-me atraído por Machado de Assis há algum tempo, desde que meu amigo Jason se apaixonou por nosso maior escritor. No seu mestrado, Jason estudou o discurso filosófico em Machado. Eu ficava aqui no meu canto perguntando: onde é que o Jasão encontrou filosofia nestes romances?

Decidi conferir. Nesta semana, revirei alguns livros bem antigos que tenho nas minhas prateleiras. Coisas como José de Alencar, Eça de Queiroz, Lima Barreto... Pensei em começar por Memórias Póstumas de Brás Cubas. Mas descobri que, na minha biblioteca, só havia um livro de Machado de Assis: Helena.

Foi por aí que comecei minha viagem. Impossível ler Helena sem pensar que você esteja assistindo a uma novela da Globo.

Eis que, para minha surpresa, descubro a filosofia de que tanto falava o Jason. Ler Machado de Assis na adolescência é muito diferente de ler agora.

Marquei esta frase pra guardar nas minhas memórias. É de Úrsula, uma das personagens do livro:

"As dores alheias fazem lembrar as próprias, e são um corretivo da alegria, cujo excesso pode engendrar o orgulho".

Não há nada mais importante que o balanço entre a alegria e a tristeza.
Gente que se pensa alegre demais não sabe fazer poesia. Não é o que diz o Vinícius?

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não


Viva Machado de Assis.
É com ele que eu vou nos próximos meses.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A gripe, segundo José Serra

Este homem já foi Ministro da Saúde.
E agora quer ser Presidente.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Uma carta de amor


Cogitei lhe propor um jantar,
com o fim de dizer aquelas juras de amor que você espera.
Preferi escrever esta carta, porque,
como você crê,
não sou dado a demonstrações públicas de afeto.
Na carta, nos encontramos apenas nós dois.
Bem que eu fui tentado por outras artimanhas.
Quem sabe,
deixar para lhe escrever no aniversário.
É uma data mais adequada para este tipo de prosa.
Esperando até dezembro,
talvez eu pudesse contar com ocasiões em que
não fosse necessário dizer do meu amor em palavras.
Sei que assim, sem razões aparentes, não é fácil deixar de lembrar que
“as cartas de amor são ridículas”.
É verdade que você está com a razão:
preciso tentar lhe dizer coisas bonitas.
Mas penso que não consigo.
Posso me inspirar na beleza que há em você.
A maior delas, a generosidade que apaga as minhas desmedidas impaciências.
Também não consigo escapar dos olhos verdes, do sorriso acolhedor,
da pele macia, das...
Va lá,
Se não posso dizer, posso contemplar todos os dias
a sua beleza.
Bem aventurado que sou.
Prometo escrever outras cartas.
Um dia eu aprendo a dizer que te amo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O ciúme pode ser uma rosa


Cercado por certezas, nunca me achei uma pessoa ciumenta.
Sempre recorri a certa filosofia, para a qual o ciúme está na prateleira dos sentimentos indesejáveis.
Eu não gostaria de ser ciumento conforme descreve Spinoza:

“Se alguém imagina que a coisa amada se une a outro pelo mesmo laço de amizade ou por um laço mais estreito ainda que aquele com que ele a fruía sozinho, será afetado de ódio para com a coisa amada e invejará o outro. Este ódio à coisa amada, junto com a inveja, chama-se ciúme".

No ciúme de Spinoza, parece-nos insuportável imaginar que o outro pode ser feliz também sem nossa presença. Assim, passamos a odiá-lo.

Na filosofia, tudo é.
Na poesia, tudo pode vir a ser.

Eis que agora Chico Buarque traz em seu Leite Derramado uma definição mais bela de ciúme:

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como um rosa. Senão, no intante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura".

Ou seja, há o tempo certo de revelar o ciúme.
Todo o resto depende disso.

Sentir ciúmes pode ser simplesmente dizer: olha pra mim, que eu quero estar perto de você nos melhores momentos.

Dando um pouco de razão a Spinoza, é mesmo bom estar perto do outro em todos os instantes de prazer. E por que não dizer isso sempre?

Como quem oferece uma rosa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O mundo não vai acabar



Está vendo esta imagem aí em cima?
Se você leu rápido, deve estar imaginando que se trata de mais uma notícia sobre o grande desastre que bate à porta da humanidade: a gripe suína.

Nada disso. É uma manchete do UOL em outubro de 2005, chamando a atenção para o fato de que a "pandemia de gripe aviária deve chegar ao Brasil" (É isso mesmo; a outra, a aviária). O "especialista" entrevistado na ocasião dizia: "não tem jeito de não chegar. Em 1918, quando houve a gripe espanhola, o vírus influenza dava a volta ao mundo em cerca de quatro meses, devido aos meios de transporte da época. Hoje, isso acontece em 4 dias".

Hilário. Você se lembra da gripe aviária? Pois é, escafedeu-se, sem chegar ao Brasil.
O "especialista" se esqueceu de dizer que, também diferentemente de 1918, os sistemas de vigilância sanitária e de tratamento contra gripes evoluíram.

Volto à "catástrofe" de 2005, para lembrar que a mistura de uma imprensa sensacionalista com um bando de "especialistas" à procura de notoriedade é o que há de mais perverso em termos de comunicação nos nossos dias.

Não comece a fazer estoques de comida e máscaras na sua casa.
Não se recuse a receber visitantes mexicanos na sua cidade.
Não deixe de comer carne de porco.
Não assombre seus filhos assistindo ao Jornal Nacional, recheado de mapas da pandemia e correspondentes espalhados pelos quatro cantos, mostrando o mundo em estado de alerta.

Jornalistas gostam de tornar os fatos mais, diria, charmosos.
Isso faz parte da cadeia de valor do jornalismo moderno.

Não se preocupe. Em breve, descobrirão outro tema para as manchetes.
Quem sabe, voltem a falar da febre da vaca louca.

sábado, 2 de maio de 2009

Certas canções (meme)


Música e poesia. Meu desafio é descobrir momentos em que essa combinação caiu perfeita.

Quais seriam versos marcantes de 10 músicas brasileiras? Não vale repetir autores. Seria fácil fazer uma lista completa do Chico ou do Cazuza (no meu caso).

Convido três amigos blogueiros a ajudar na tarefa: Sandra (Isso é bossa nova), Jasão (Não há pensameto raro) e Danilo (Cream and extra sugar)

Segue minha listinha:

O TEMPO NÃO PARA (Cazuza)
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

ÍNDIOS (Legião Urbana)
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.


CERTAS CANÇÕES (Tunai)

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece:
"Como não fui eu que fiz?!"

ENCONTROS E DESPEDIDAS (Milton e Brant)
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero...

PEDAÇO DE MIM (Chico Buarque)
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

O MUNDO É UM MOINHO (Cartola)
Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

ESQUINAS (Djavan)
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá

CHEGA DE SAUDADE (Tom Jobim e Vinícus)
Chega de saudade
A realidade é que, sem ela, não há paz
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim

JURA SECRETA (Sueli Costa e Abel Silva)
Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que eu não roubei
A jura secreta que eu não fiz
A briga de amor que eu não causei

A FLOR E O ESPINHO (Nelson Cavaquinho)
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

E agora, um pouco de beleza. Cazuza cantando Cartola:
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O MUNDO É UM MOINHO
Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A beleza que há em nós


Todas as cidades buscam títulos que as tornem distintas.
Na ânsia de divulgar sua originalidade, criam categorias esdrúxulas para competir, feito gostam de dizer os marketeiros: se você não pode vencer os concorrentes, crie sua própria categoria de competição.

Fiz no teste neste final de semana, viajando de Itapeceria a Belo Horizonte.
Num trecho de 170 km, encontrei 4 placas indicativas de autopromoção dos municípios.

Vejam só:

Itapecerica: berço cultural do centro-oeste mineiro
Cláudio: maior polo de artesanato de fundição da América Latina
Piracema: melhor festa de rodeio da região
Bonfim: capital brasileira da bucha vegetal

Pra comentar pouco, só vou dizer uma coisa: seria bom morar na capital brasileira da bucha vegetal?

Pensando bem, as cidades são como as pessoas.

Queremos todos ser belos.
Queremos que a nossa beleza seja sempre realçada.
Beleza: eis nossa busca permanente.

Antes que façam mal juízo de mim, esclareço que não estou me referindo à beleza física.

Somos belos, quando...

A resposta é sua.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sou do mundo, sou Minas Gerais


Sou mineiro, sei lá o que seja.
Mas tenho orgulho disso, como todo mineiro.
Nosso jeito montanhoso não nos deixa nunca esquecer as raízes escondidas na alma.
Juntei aqui alguns mineiros.
É só uma tentativa de revelar como se formam nossos sentimentos.
Por que estou falando disso...
Porque sou mineiro, uai!.
Veja Milton e Uakti para entender um pouco.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Saudades de Portugal


Xandão e Marilene estão contando os dias para a viagem de volta a Lagos, Portugal.

Eles terão um retorno ao passado, do qual ficaram presas na memória lembranças de um tempo difícil, que deixou marcas de felicidade.

É assim que a gente faz com o passado: elimina a poeira que não faz falta e retém o que foi marcante. Em Lagos, os dois viveram a vida de imigrantes que buscam dias melhores. Foi bom. Mas, em Portugal, descobriram que não poderiam viver sem o Brasil. Há mais de 10 anos, voltaram. Somente agora vão ter a oportunidade de viajar para rever os amigos que deixaram por lá.

O passado e a saudade podem ser percebidos sob vários pontos-de-vista.

Enquanto viviam em Lagos, o Brasil era o seu passado.
Hoje, a saudade vive em Portugal.

Pensando sobre a viagem de Alexandre e Marilene, fico aqui "filosofando" sobre o alcance das minhas memórias. Até onde posso retroceder no passado? Ou melhor, quanto quero retroceder?

Onde ficaram guardadas as melhores lembranças? Já dizia Adélia Prado: "o que a memória ama, fica eterno".

Quero voltar sempre a olhar para trás.

Há muito a descobrir até que eu chegue no começo de tudo.
Como bom brasileiro, eu poderia dizer que o começo está em Portugal.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Poesia de Outono


Eu sabia que isso iria acontecer.
A Sandra me provou que há muita poesia no outono.

Juntar Ed Motta e Rio de Janeiro só poderia dar nisso.
É covardia.

 Ed Motta - Outono no Rio


OUTONO NO RIO (Ed Motta)

Me dê a mão
Vai amanhecer
Juntos pela madrugada
Luz, contra-luz
Sobre os Dois Irmãos
Pra mim

Há um lugar para ser feliz
Além de abril em Paris
Outono, outono no Rio

No seu olhar
Já se fez manhã
Vamos logo a Guanabara
Vai se fechar
Vou levar você
Pra mim

sexta-feira, 20 de março de 2009

Chegou o outono


Neste ano eu não me esqueci, e vou lembrar você: o outono começa amanhã.
Como é que a gente pode esquecer o início do outono?
Haveria estação mais importante?

Em 30 segundos, posso cantar várias músicas que falam sobre a primavera, o verão ou o inverno. Sei que existem músicas sobre o outono, mas elas não têm poesia.

O Tim Maia resumia o amor nas outras estações:
"Porque é primavera, te amo"...

O que dizer do Beto Guedes?
"Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos"...

Eu nunca me convenci com a explicação de que o outono é a estação na qual as folhas caem das árvores. Isso sempre me soou como um jeito frágil de caracterizar um tempo que não se revela pra nós. Nos meus sonhos, posso ver a primavera ou o verão. O outono não está na minha mente.

Sei que no hemisfério norte o outono tem algumas características marcantes. Pelo menos, é o que dizem.

Mas eu sou brasileiro e, definitivamente, o outono parece não ter a menor graça entre nós. Não temos aquelas paisagens incríveis de jardins coalhados de folhas secas.

Entretanto, dizem que o outono é o símbolo da renovação.

Que ele seja apenas um tempo de descanso ou de espera. Afinal, a vida exige momentos nos quais a gente precisa apenas esperar. Seria dramático encontrar o gozo do verão todos os dias; contemplar uma beleza que não se esgota, como nas melhores primaveras; ou buscar o calor do outro a todo momento, feito nos dias de inverno.

Bom que exista o outono.

Melhor ainda não precisar de uma fantasia diária.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Poeira no vento



Tudo é poeira no vento.

Talvez eu colocasse a música "Dust in the wind", do Kansas, entre minhas dez preferidas, se tivesse a capacidade de definir essa lista.

A poeira que se esvai em um sopro é o símbolo mais forte da nossa existência, que não nos deixa permanecer para sempre.

Está no mito bíblico: nascemos do pó, feito barro que ganha sopro de vida, e nos tornaremos pó, quando perdermos o fôlego. Neste jogo, pó e vento definem o que somos.

Quando temos a sensação de completude é porque estamos cheios, com o sopro que vem de fora, trazendo algo para nos dar sentido. Quando caímos, perdemos o fôlego e tudo nos é arrancado.

Coincidência ou não, um dos meus livros preferidos traz no título uma expressão marcante, em torno do mesmo tema: "Pergunte ao pó" (John Fante).

Sejamos honestos: tudo é poeira no vento. Pergunte ao pó.



DUST IN THE WIND (Kansas)

I close my eyes
Only for a moment and the moment's gone
All my dreams
Pass before my eyes, a curiosity

Dust in the wind
All they are is dust in the wind

Same old song
Just a drop of water in an endless sea
All we do
Crumbles to the ground, though we refuse to see

Dust in the wind
All we are is dust in the wind

Now, Don't hang on
Nothing lasts forever but the earth and sky
It slips away
And all your money won't another minute buy

Dust in the wind
All we are is dust in the wind
Dust in the wind
All we are is dust in the wind
Dust in the wind
All we are is dust in the wind
Dust in the wind
All we are is dust in the wind

quarta-feira, 11 de março de 2009

Biquinis e estatísticas


Os jornais descobriram mais um assunto para atormentar nossas noites de sono: a queda do PIB brasileiro no quarto trimestre do ano passado.

Mas como eu confio muito mais no meu amigo Eduardo Nunes do que na Míriam Leitão, estou tranquilo. Segundo ele, quando o assunto é o crescimento econômico, não adianta ficar olhando apenas para o retrovisor. O importante é o que vai acontecer de agora pra frente.

Ou, como diria Delfim Neto:

"As estatísticas são como biquinis: mostram quase tudo, mas escondem o essencial".

sexta-feira, 6 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

A turma do blog


Eu fico cada vez mais impressionado com o poder de mobilização da internet.
Bastaram alguns poucos e-mails para que eu conseguisse reunir 75% dos meus leitores fiéis lá em casa.

Veja aí em cima: Jasão, Sandra Leite e Xandão.

Nem tudo é perfeito. Como os outros 25% (o Edu) estavam viajando para o exterior, o quórum não foi completo.

Viva a Web.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A "ditabranda" da Folha


Preste atenção no editorial do Jornal Folha de S. Paulo (o grifo é meu):

Apesar da vitória eleitoral do caudilho venezuelano, oposição ativa e crise do petróleo vão dificultar perpetuação no poder

O ROLO compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia. Na Venezuela, os governantes, a começar do presidente da República, estão autorizados a concorrer a quantas reeleições seguidas desejarem.

Hugo Chávez venceu o referendo de domingo, a segunda tentativa de dinamitar os limites a sua permanência no poder. Como na consulta do final de 2007, a votação de anteontem revelou um país dividido. Desta vez, contudo, a discreta maioria (54,9%) favoreceu o projeto presidencial de aproximar-se do recorde de mando do ditador Fidel Castro.

Outra diferença em relação ao referendo de 2007 é que Chávez, agora vitorioso, não está disposto a reapresentar a consulta popular. Agiria desse modo apenas em caso de nova derrota. Tamanha margem de arbítrio para manipular as regras do jogo é típica de regimes autoritários compelidos a satisfazer o público doméstico, e o externo, com certo nível de competição eleitoral.

Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente.

Em dez anos de poder, Hugo Chávez submeteu, pouco a pouco, o Legislativo e o Judiciário aos desígnios da Presidência. Fechou o círculo de mando ao impor-se à PDVSA, a gigante estatal do petróleo.

A inabilidade inicial da oposição, que em 2002 patrocinou um golpe de Estado fracassado contra Chávez e depois boicotou eleições, abriu caminho para a marcha autoritária; as receitas extraordinárias do petróleo a impulsionaram. Como num populismo de manual, o dinheiro fluiu copiosamente para as ações sociais do presidente, garantindo-lhe a base de sustentação.

Nada de novo, porém, foi produzido na economia da Venezuela, tampouco na sua teia de instituições políticas; Chávez apenas a fragilizou ao concentrar poder. A política e a economia naquele país continuam simplórias -e expostas às oscilações cíclicas do preço do petróleo.

O parasitismo exercido por Chávez nas finanças do petróleo e do Estado foi tão profundo que a inflação disparou na Venezuela antes mesmo da vertiginosa inversão no preço do combustível. Com a reviravolta na cotação, restam ao governo populista poucos recursos para evitar uma queda sensível e rápida no nível de consumo dos venezuelanos.

Nesse contexto, e diante de uma oposição revigorada e ativa, é provável que o conforto de Hugo Chávez diminua bastante daqui para a frente, a despeito da vitória de domingo.

(Editorial da Folha de S. Paulo publicado na edição de 17/02/09)


Em resposta a várias mensagens de protesto enviadas ao jornal, eles publicaram a seguinte nota:

Nota da Redação - Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional.

Depois de ler, peguei o telefone e cancelei minha assinatura do UOL.
Não é nada, não é nada... não é nada mesmo.

Mas é muito bom ser livre para tomar decisões.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Camarão tailandês pode fazer mal


Da série "Conversas que eu não queria ouvir, mas não há nada a fazer quando as pessoas conversam alto e não tenho ipod para colocar no ouvido enquanto desço a escada rolante".

Um homem e uma mulher caminham.

O homem: "como as pessoas têm falado em crise!"
A mulher: "agora, se vêm com esta conversa eu logo digo: estou com crise de alegria, de bom humor, de otimismo..."
O homem: "boa idéia".
A mulher: "é claro que ninguém é de ferro. Às vezes, a gente não está bem".
O homem: "é..."
A mulher: "no último fim de semana, por exemplo, eu não estava bem. Fui a um casamento na sexta e me esbaldei com o camarão tailandês. Passei o sábado inteiro super indispota".
(PANO RÁPIDO)

Eu só posso tirar duas conclusões:
1) Camarão tailandês em excesso faz mal.
2) Existem milhares de planetas Terra. Cada um vê a vida com as lentes que escolhe.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Apenas música

Aproveitando a estada do Elton John no Brasil, vou ativar a "Rádio Assim Também". Em primeiro lugar, segue a minha favorita, que ele nunca canta nos shows.

 Elton John - Skyline Pigeon


Agora, uma interpretação fantástica da Sinead O'connor.

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Influência



Algumas das minhas decisões não são completamente minhas.

A influência de pessoas e idéias sempre me ajuda a escolher o caminho quando está custoso decidir. E creio que seja assim com todos nós.

Se temos convicção de que as coisas funcionam dessa maneira, devemos fazer o raciocínio inverso: como eu tenho exercido a minha influência sobre outros? Independentemente da intensidade, sempre influenciamos alguém.

Creio que a capacidade de influenciar é um dos maiores ativos que nós possuímos.

O que você tem feito com a sua influência?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Para onde?



Acordei querendo discutir o dilema que me acompanhou durante a noite.

O que seria melhor?
- Nunca ter desejado saltar de para-quedas ou ter desistido de pular já no avião?

O que machucaria mais?
- Não ter conhecido a pessoa amada ou ter sido rejeitado por ela?

O que seria mais frustrante?
- Não ter se classificado no vestibular ou ter sido o primeiro excedente?

A sensação de estar perto do objeto do desejo ou da realização de um sonho, sem, entretanto, nunca alcançá-lo, faz de nós seres angustiados. Vista assim, da perspectiva das trivialidades apresentadas nas questões acima, eu diria que a dúvida não existe: melhor não sentir a possibilidade daquilo que nunca será. Mas, e se as questões forem outras?

O que você deseja?
- Tomar consciência de si ou ser abandonado à própria sorte?

O que nos faz mais felizes?
- Ter um encontro diário com nossos limites ou manter uma falsa impressão sobre nós mesmos?

O que nos torna melhores?
- Recomeçar sempre ou permanecer absorvidos pelas mesmas imagens e impressões que a vida nos apresenta?

Tenho um pedaço de papel amarelado que mantenho há uns 20 anos entre meus livros. Não me lembro o porquê, mas escrevi numa folha mal recortada, amassada, e guardei. É um trecho do Kierkegaard:

"Se arrisco e me engano, seja! a vida castiga-me para me socorrer. Mas se nada arriscar, quem me ajudará? Tanto mais que nada arriscando, no sentido mais lato (o que significa tomar consciência do eu), ganho ainda por cima todos os bens deste mundo - e perco meu eu".

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A lista



Chegou a hora de fazer as listas.
Promessas de ano novo.

Se pensássemos como Kierkegaard, a nossa lista seria muito curta: "pureza de coração é desejar uma coisa apenas".

Escolher é deixar muitas coisas de lado.
As nossas mãos não podem alcançar tudo o que a alma deseja.

Deveríamos, a cada ciclo, fazer o exercício de olhar para trás e diagnosticar a efetividade das nossas escolhas.

Quem sabe, buscar muito pouco em 2009: escolher alguém para cultivar uma nova amizade (uma pessoa apenas), tomar mais água e menos café, brincar de boneca com as filhas...

Coisas que podem nos livrar da sensação de que o mundo nunca gira em nosso favor.

 Oswaldo Montenegro - A lista


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?