sábado, 27 de dezembro de 2008

É claro que o sol vai voltar


365 dias e, mais uma vez, nós temos a chance de recomeçar. A definição do calendário é arbitrária, mas segue a lógica da natureza. Em 365 dias, vivemos as quatro estações, um ciclo que se completa.

Sinto falta de mais recomeços. Talvez devêssemos festejar cada nova estação. Dividir o ano em quatro, a fim de que sempre estivesse próxima a possibilidade de refletir sobre o passado e ver o futuro com os olhos da esperança.

Quando nossas atenções se voltam para a simbólica passagem do tempo, sempre existem duas possibilidades: ou nos desesperamos porque não conseguimos impedir que nossas angústias sigam juntas conosco para o novo tempo ou entramos em êxtase porque há portas que se abrem de forma clara em nossa frente.

Esse é um exercício rejuvenescedor. É por isso que eu gostaria de vivê-lo em cada estação.

Eu não sei onde está seu coração nesta passagem para 2009. Há mais expectativas pelo novo que se aproxima com suas surpresas ou angústias por não ter as coisas sob controle?

Neste momento, só há uma certeza: é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez!

 14 Bis - Mais uma Vez


MAIS UMA VEZ (Flávio Venturini e Renato Russo)

Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende

Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo

Quem acredita sempre alcança

Nunca deixe que lhe digam
Que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Natal é uma criança


Se tirarmos o corre-corre das compras, as luzes que iluminam as praças, o cheiro de peru assado, os bêbados colhidos pela madrugada, restará uma criança deitada na manjedoura.

O Natal deveria ter uma criança no centro de nossas atenções. O Natal é o nascimento de uma criança. Mais que isso, é Deus se fazendo criança.

Sabe por que isso? Para nos alertar de que é preciso continuar sendo criança. Como deseja Manoel de Barros:

Tenho candor
por bobagens.
Quando eu crescer eu vou ficar criança.


O próprio Jesus, o mesmo da manjedoura, nos alertou para isso:

Quem não se tornar como uma criança, de modo algum entrará no Reino dos Céus.

Alguns pensam que devemos ser crianças para preservar a pureza, a honestidade, a bondade, para nos livrarmos do preconceito, dos maus pensamentos.

Eu não. Acho que precisamos voltar a ser crianças para reaprender a brincar. Brincadeira como coisa séria, feito nas imaginações da Beatriz. A criança é alguém que só quer brincar. Quando cresce, vai desaprendendo tudo, e ganhando uma série de preocupações inúteis.

Só quem reaprende a brincar, como criança, pode abrir os olhos para o que parece invisível: a fantasia da vida.

A vida é uma fantasia.
O Natal é uma criança.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Fanatismo (Florbela Espanca)



Minh' alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
pois que tu és já toda minha vida
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina, fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como um deus: princípio e fim!...

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco,
diante do que sinto.

 Fagner - Fanatismo

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Deu no jornal


A Beatriz ainda não sabe o que é um jornalista. Tem só 3 anos. A Júlia, com 9, ainda está longe de escolher uma profissão, mas já consegue definir com precisão o espírito do jornalismo.

Na semana passada eu estava mostrando para ela o local em que havia presenciado um acidente grave. Fui questionado: "alguém morreu, papai?". Eu não soube responder, mas ela mesma resolveu o dilema: "não deve ter morrido, porque eles não mostraram na televisão. Todo dia eles mostram alguma morte no jornal".

De forma simples, Júlia descreveu o que nós poderíamos descrever como um dos princípios da ideologia da informação no jornalismo. Como diria o ditado repetido nas redações: "good news is bad news".

Notícia é o que transgride uma realidade previsível. Ninguém espera que um repórter se apresente ao vivo num telejornal para dizer que todos os vôos chegaram no horário e não houve imprevistos. O que se deseja é que ele sempre tenha um "caos aéreo" para descrever.

Não estou aqui defendendo um jeito de fazer jornalismo. Meus argumentos servem apenas como introdução para uma pergunta (a maior introdução da história):

- Por que sempre nos incomodamos com o que é constante, previsível, supostamente desprovido de desfechos espetaculares? Por que não temos mais a capacidade de nos emocionar com aquilo que encontramos no cotidiano?

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O amor e suas escolhas


Vou buscar uma frase como pretexto para falar de um tema que não sai do blog. A música do Fernando Brant me veio à cabeça por acaso e diz: "o medo de amar é o medo de ter de, a todo momento, escolher, com acerto e precisão, a melhor direção"

Não sei o que ele quis dizer, mas sei o que penso quando ele diz.

O amor verdadeiro só é pleno quando pode caminhar junto, quando olha o mesmo horizonte, quando espera chegar lá tendo ainda consigo a coisa amada.

Não, não quero dizer que seja tudo uma fantasia embalada como um conto de fadas. Porque não é uma fantasia, é amedrontador pensar que devemos fazer escolhas definitivas a todo instante. Sem elas, deixamos de amar. Errando, podemos não chegar lá. Resta-nos, então, escolher certo.

Todos desejam um amor que seja infinito. Entre o desejo e o real, estão as escolhas.




 Beto Guedes - O medo de amar é o medo de ser livre


O MEDO DE AMAR É O MEDO DE SER LIVRE
(Beto Guedes - Fernando Brant)

O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver

O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direção

O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar pra ficar

O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder

O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz



sábado, 15 de novembro de 2008

Quem você é?



Voltei. Não imaginava que umas semanas de trabalho intenso poderiam me impedir de produzir algum post atualizado. É verdade que sumi. Ao contrário de amigos que escrevem quando estão sob stress, como o Eduardo, eu não consigo ser assim. Se algo não me incomoda, não dá pra escrever. E escrever sobre trabalho não é nada atraente. O trabalho foi a única coisa que me tocou nas últimas semanas, além da minha amada.

Estou aqui pensando. Somos dois.

Um de nós precisa seguir as demandas da vida. Está sempre pronto a produzir, atender à lógica da produtividade, fazer aquilo que esperam de nós.

O outro quer transgredir. Procura ser feliz, gozar, ver estrelas na escuridão, encontrar amigos onde só há desilusão, descobrir a fórmula da felicidade que não se esgota.

Quem vence esse embate? Quem você quer que vença?

Ouça o Lenine.


 Lenine - Paciência


Paciência
(Lenine)

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...



quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O breve espaço em que você não está


Pedido de amigo é uma ordem. O Alexandre é apaixonado por Pablo Milanés (o sujeito é realmente bom)e queria ouvi esta canção no blog.

Não vou comentar nada. Nem é preciso.

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El breve espacio en que no estás

Todavía quedan restos de humedad,
sus olores llenan ya mi soledad,
en la cama su silueta
se dibuja cual promesa
de llenar el breve espacio en que no estás.

Todavía yo no sé si volverá,
nadie sabe al día siguiente lo que hará,
rompe todos mis esquemas
no confiesa ni una pena,
no me pide nada a cambio de lo que dá.

Suele ser violenta y tierna
no habla de uniones eternas,
más se entrega cual si hubiera
sólo un día para amar.

No comparte una reunión
más le gusta la canción
que comprometa su pensar.

Todavía no pregunté: te quedarás,
temo mucho a la respuesta de un jamás,
la prefiero compartida
antes de vaciar mi vida
no es perfecta mas se acerca a lo que yo
simplemente soñé.

Quem quiser, pode ver aqui embaixo o Pablo Milanés cantando com o Victor Manuel esta mesma música.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Chamada contra a pobreza



Milhares de blogs de todo o mundo se juntam neste 15 de outubro para levantar a voz contra a pobreza. Aderi à campanha porque, na minha opinião, a pobreza é a maior prova do fracasso da humanidade.

Estou meio cansado das formulações exóticas que desenvolvemos para justificar o nosso consumo de bens inúteis, descartáveis, que servem apenas para movimentar a máquina insana do consumismo.

Como diriam os Titãs: “miséria é miséria em qualquer canto, riquezas são diferentes”. Ou, ouvindo Jesus Cristo: “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”. Verdade verdadeira.

A pobreza é uma vergonha!




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Quem não ouvir quando o assunto for a crise



Vou falar de economia apenas para dar um conselho bem particular: não confie em jornalistas (e olha que eu sei o que é ser jornalista) e nos ortodoxos economistas brasileiros (mais realistas que os pais do capitalismo moderno).

Nesta segunda-feira, dia 13, o economista norte-americano, Paul Krugman, ganhou o Prêmio Nobel de Economia. Dentre outras visões pouco ortodoxas, ele sempre disse que o Estado deveria regular o Mercado. Sem esta ladainha liberal de que os Mercados se auto-regulam e o Estado é sempre incompetente.

E não é que, por ironia do destino, Krugman ganhou o Nobel exatamente no momento em que os Estados de todo o mundo tiveram que fazer um socorro histório dos Mercados, que estavam à beira do derretimento, nas palavras do Presidente do FMI? Os Estados tiveram que entupir os Mercados de dinheiro para salvá-los da morte.

E o que isso tem a ver com economistas e jornalistas brasileiros?

Ouvi vários economistas dando entrevistas para explicar a ação dos países europes e a eficácia dos planos no combate à crise. Os jornalistas perguntaram: isso vai surtir efeito para acalmar os mercados? Os economistas de araque (alçados à condição de especialistas pela impresa) respondiam: os mercados ainda aguardam sinais de que os planos serão executados como prometidos.

Quer dizer que os Mercados estão à beira do abismo e aguardam sinais dos pobres e incompetentes Governos? Coitadinhos...

Não dê ouvidos e jornalistas e economistas neste momento de crise.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eu sou boy



Não tenho nada contra os office-boys (acho até que meu pai me fazia de office-boy quando eu era adolescente), mas como são folgados estes sujeitos. Tá bom... os chefes deles são folgados e jogam pressão em cima dos coitados.

Acho que você já deve ter vivido a seguinte situação: entra no elevador e encontra um boy estacionado na porta, com capacete ou mochila na mão. Ele nem se mexe e você tem que atravessar para conseguir um cantinho. O elevador vai se enchendo cada vez mais e o carinha (como diria a Júlia) continua lá parado, fingindo que não vê ninguém. Quem quer entrar ou sair tem que avançar sobre aquela barreira humana. Será que isso tudo é pra descer primeiro e ganhar tempo? A culpa é mesmo do patrão.

E quando eles estão pilotando as motos pelo centro da cidade? Ai do motorista se deixar o braço do lado de fora do carro. Os moto-boys não têm a menor noção do que seja o Código de Trânsito Brasileiro.

Mas, pensando bem, acho que somos todos office-boys: estamos sempre correndo pra lá e pra cá, fazendo as mesmas coisas, contando as mesmas piadas, esbarrando com as mesmas pessoas na filas dos bancos, ouvindo as mesmas músicas no MP3 (boy que é boy, tem IPod).

Música? Então vai uma em homenagem ao boy que mora em cada um de nós.

 Kid Vinil - Sou Boy

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Qual é a lógica?


Se alguém souber o motivo, que me diga. Por que os hotéis fornecem sabonetes e shampoos nos quartos, mas não disponibilizam cremes dentais? Nunca entendi esta lógica da hotelaria.

Aliás, não é nada fácil compreender a lógica do setor. Sempre fico em um hotel de São Paulo (EZ Aclimação) e demorei bastante a conseguir decorar o "endereço" dos meus quartos. Se a chave tem o número 1072, qual é o andar? Você errou se disse décimo. O andar é o sétimo, de 07. Quando você receber a chave 1053, saiba que está no quinto andar. Isso mesmo. Os dois números do meio indicam o andar. Não me pergunte o porquê.

Outra que também tem endereço: Hotel Rondônia, no Rio. Não foi fácil descobrir que a tecla A do elevador indicava a saída. Já tinha visto R, de recepção; P, de portaria; L, de lobby. Mas o que significaria A? O recepcionista esclareceu: acesso.

Imagino que, desde que o Turismo virou ciência (o profissional da área se chama turismólogo), eles devem ter decidido construir um conhecimento mais sofisticado. Talvez venha daí a lógica dos exemplos que acabei de citar.

Mas esse não é um privilégio dos hotéis. Quantas vezes na vida não nos acostumamos com coisas, situações e estilos que soam estranhos aos outros? A nossa lógica pode ser mais particular do que imaginamos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Casinha branca


Você já teve a experiência de enxugar gelo?

É assim que eu me sinto nas sextas-feiras de certas semanas. Como esta, por exemplo. Faço mil coisas, ando pra lá e pra cá, mantenho a cabeça a mil e, no final, sinto que não saí do lugar.

Nestas horas, lembro-me de uma frase de Kierkegaard, que me foi apresentada pelo Rubem Alves, para nunca mais sair da minha cabeça: "pureza de coração é desejar uma só coisa".

Acho que acredito firmemente nisso. Cada ser humano deveria desejar uma coisa apenas durante toda a existência. Não importa o quê, mas um desejo só nos basta.

Não vou tentar resumir aqui o meu desejo. Não seria capaz. Exatamente porque, nestes momentos, sinto carregar comigo o sentimento do autor de Eclesiastes (um dos mais filosóficos textos bíblicos): "tudo é correr atrás do vento".

Ainda vou descobrir uma maneira de não me desviar do meu desejo.

Não estarei onde não se possa ver uma luz, não darei ouvidos a palavras que não construam sentido, não gastarei minhas forças em projetos que não valham a pena.

Quero sentir as marcas de cada passo que eu der, quero a paz de quem caminha ao encontro da coisa desejada.

Talvez eu queira mesmo é achar a minha "casinha branca", este arquétipo tão brasileiro de uma vida cheia de sentido.

 Gilson - Casinha branca


CASINHA BRANCA (Gílson)

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que não vejo em minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho a perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer ...


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Chorar de felicidade


Não choro muito. Infelizmente, fui treinado a controlar minhas emoções. Por isso, não posso falar sobre o choro, mas sobre a vontade de chorar.

Acho que tenho sempre muito mais vontade de chorar nos momentos alegres. As tristezas me fazem ser racional. As alegrias me deixam emocionado.

Quando estamos felizes, o nosso choro (ou desejo de chorar) é um grito que tenta eternizar a beleza. Nunca é bom saber que a alegria completa vai e vem, sem que a gente perceba como.

Falo isso para relembrar a roda de viola do último sábado (não chorei, é bom que se diga). Cantamos coisas do arco da velha. Por mais que meu amigo Eduardo não concorde, a felicidade sempre mira o passado. Não que ela esteja apenas lá. Mas, de lá, vêm algumas provas de como é possível ser feliz.

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NOTURNO

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio
Mas deixaram suas marcas...

Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania
Vem mais forte...

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou...

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo, da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança...

Nessa estrada
Só quem pode me seguir
Sou eu!
Sou eu! Sou eu!...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lugares comuns


Não vou esconder. De vez em quando assisto Fantástico.
No último domingo eles apresentaram uma reportagem sobre a queda dos índices de natalidade no Brasil. Atualmente, registramos uma média de 1,8 filho por mulher.

O Fantástico me fez lembrar como nos contentamos com análises baseadas no lugar comum. Quando o assunto é a pobreza no Brasil, fico impressionado com o número de pessoas que ainda saem com aquela: "precisamos investir no controle de natalidade".

Há muito tempo, as taxas de natalidade deixaram de ser combustível para o aumento da pobreza.

Mas tem lugar comum que revela ainda mais preguiça de pensar. Como diria meu amigo Eduardo Nunes, se, em um processo de seleção para uma vaga de emprego em alguma organização que trabalha com desenvolvimento social, o candidato pronunciar a frase seguinte, deve ser imediatamente mandado para casa: "não devemos dar o peixe, mas ensinar a pescar".

Confesso: não tenho muita paciência com pessoas que debatem a partir de frases feitas.

Gosto de uma frase que vi pichada em um muro, atribuída ao Millôr: "a ânsia de parecer genial, revela cada imbecil!"

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O método de Gandhi


Quem me apresentou a Gandhi foi Martin Luther King Jr.

Deixe-me explicar melhor. Recentemente, estudando a vida do líder pacifista norte-americano, descobri que ele chegara à seguinte conclusão sobre a origem de sua força para lutar contra a segregação dos negros: "Jesus Cristo me inspirou e Gandhi me deu o método".

Fiquei curioso. Conhecia superficialmente a história de Gandhi, mas nunca havia me detido em uma leitura sistemática acerca da vida daquele que foi o símbolo da libertação da Índia do jugo britânico. Qual seria este método de Gandhi?

Creio que podemos resumi-lo em três palavras: Ahimsa, Sat e Agraha.

Gandhi entendia que a não-violência (Ahimsa) era a única escolha possível contra a opressão. Qualquer atitude de reverência à vida deveria ser marcada pela não-violência.

Mas como seria possível vencer com a não-violência àqueles que impunham sua vontade pela força das armas de guerra? Mantendo um postura passiva? Não. Para Gandhi, era necessário constranger os opressores pela exposição sem limites da verdade (Sat). A verdade que tem poder de se impor, desde que apresentada com firmeza (Agraha). Satyagraha - a força da verdade. Este era o método.

Mas o que era a verdade para Gandhi? Deixemos que ele nos fale: "Não é dado ao homem conhecer a Verdade total; o seu dever está em viver de acordo com a Verdade na medida em que ele a percebeu; e, em procedendo assim, deve recorrer aos meios mais puros, isto é, a não-violência. (...) O mais próximo que podemos chegar da Verdade é possível somente através do amor.

sábado, 16 de agosto de 2008

O lazaronês fez escola


Embora o blogueiro goste do tema, o futebol não é assunto neste espaço.
Entretanto, tenho que abrir uma exceção.

Está ficando cada vez mais divertido ouvir as entrevistas dos "professores" que treinam os times brasileiros.

Recentemente, o Gallo, que treinava o time homônimo, saiu com essa para explicar uma derrota: "faltou o encaixe da bola positiva". Como bem alertou o Tostão, o Gallo queria dizer que faltou fazer o gol.

Algumas palavras começam a nascer para a língua brasileira pela boca dos técnicos. Por exemplo: "oportunizar". É o hit do momento. Você quer ouví-la umas dez vezes no domingo, ouça entrevistas do Tite (Internacional) ou do Hélio dos Anjos (Goiás).

Mas os treinadores de hoje tiveram um grande professor.
O precursor de todos eles se chama Sebastião Lazaroni.

Foi o ex-treinador da fracassada seleção brasileira da Copa de 90 que inaugurou o idioma dos "treineiros", quando disse: "nós precisamos galgar parâmetros".

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Volver a los 17

Sempre me emocionei com a Mercedes Sosa.
Quando ela se junta a Mílton, Chico, Caetano e Gal...


quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cuidado com a internet



Como deu pra perceber, eu estava de férias.
Fui pra longe, onde não havia internet disponível.

Embora desconectado, descobri que a gente precisa mesmo desconfiar da internet.
Encontrei um site que vende livros de sebos e resolvi comprar uma "pilha" para ler durante as férias.
Como eu e meu amigo Jason decidimos criar neste espaço virtual um grupo literário e elegemos o livro Através do Espelho como nossa primeira leitura, coloquei um exemplar na minha cesta de compras.

Chegou tudo direitinho pelo correio. Quer dizer, quase tudo. Em vez do livro do Lewis Carroll, sugerido pelo Jason, o que veio? Um homônimo, escrito pelo Jostein Gaarder, autor de O mundo de Sofia







Eu sei que o Jason, como filósofo que é, odeia O mundo de Sofia.
Mas, já que o livro do cara veio, eu tive que ler.
Achei interessante. Vou indicar para minha filha, a Júlia.

Agora o jeito é conseguir um exemplar do "verdadeiro" Através do Espelho para que comecemos o nosso debate literário.

Moral da história: cuidado com o que você compra pela internet.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Let me try again


Gosto das releituras de clássicos da música.
Não deve ser nada fácil fazer uma versão que garanta algo de novo para canções tão conhecidas.

Esta introdução é apenas para justificar a postagem de uma música que grudou em mim nos últimos dias: Let me try again

Com o Skank ou com o Frank Sinatra?

Este foi um dos sucessos do primeiro CD nacional do grupo mineiro. Creio que não fez tanto sucesso quanto Indignação, mas apresentou a levada de reggae do Skank.

Mas o Frank Sinatra cantando esta música é algo sensacional. Aliás, cantando qualquer música.

Para que eu não me imagine um crítico de artes (quem entende do assunto é a Sandra, do blog Isso é Bossa Nova), vamos ouvir o Sinatra. Bom proveito!

 Frank Sinatra - Let me tray again


sexta-feira, 27 de junho de 2008

Chesterton e a ortodoxia


A obra: Ortodoxia
O autor: G.K. Chesterton

Acabei de ler o livro, uma reedição comemorativa dos 100 anos de publicação da obra.
Chesterton, filósofo e escritor inglês, que produziu muito no início do século XX, faz uma defesa consistente do cristianismo contra o materialismo e o racionalismo.

Em nosso mundo pós-moderno, a palavra ortodoxia tem sido relacionada com conservadorismo. Chesterton tenta demonstrar que não é bem assim. Para ser revolucionário, o indivíduo deve, muitas vezes, ser ortodoxo.

Recomendo a leitura.

Como não quero fazer uma discussão filosófica tão árida, recolhi um trecho mais ameno do livro para compatilhar:

"Se algum ato humano qualquer pode, grosso modo, ser chamado de sem causa, trata-se de um ato menor de um homem sensato: assobiar andando por aí, golpear o capim com uma bengala, bater os calcanhares no chão ou esfregar as mãos. O homem feliz é que faz coisas inúteis; o homem doente não dispõe de força suficiente para ficar sem fazer nada.
São exatamente essas ações despreocupadas e sem causa que o louco jamais saberia entender; pois o louco (como o determinista) em geral vê causa demais em tudo. O louco veria um significado de conspiração nessas atividades vazias" (Chesterton)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sopa aérea



Eu adoro sopas.
Pensei que gostava de qualquer tipo de sopa.
Me enganei.

Na semana passada, voando de SP para BH, fui surpreendido pela Cia Aérea. Ao iniciar o serviço de bordo, eles informaram que o "prato" seria sopa. Confesso que nunca havia tomado sopa em um avião. Se alguém já teve esta experiência, que nos relate, por favor.

O pessoal da Cia Aérea deve ter chamado isso de inovação. Eu prefiro chamar de desencantamento. Antes de explicar por que penso assim, tenho que fazer justiça: eles conseguiram me fazer perceber que, na verdade, não gosto de sopa, mas do ritual que ela nos proporciona em volta da mesa.

A sopa do avião não tinha qualquer encanto.
Imaginem: ela estava acondicionada em garrafas térmicas (seria demais imaginar uma panela borbulhante voando por aí); era servida em uma canequinha de isopor (muito diferente dos pratinhos de louça); devia ser bebida, como se faz com o cafezinho do avião (sopa sem colher é demais!); pra finalizar, não consegui me ver deixando o caldo escorrer pela camisa. Dentro de um avião, não seria possível.

A única coisa que a sopa da TAM conseguiu foi fazer o serviço de bordo atrasar. As comissárias não se derem bem com aqueles carrinhos entupidos de "garrafas de sopa".

Definitivamente, não gosto de sopa.
Gosto de algo que nos encanta, fazendo da refeição um divertimento.
Pode até ser uma boa sopa.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Naquela mesa



Admito que tenho um gosto musical, diria, eclético.
Com esta história de ficar falando de reminiscências, me lembrei de uma canção antiga, da qual meu pai gostava muito.

Veja se você já ouviu este verso: "naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim".

A canção foi feita pelo Sérgio Bittencourt, em homenagem ao pai, Jacob do Bandolim, o homem que transformou a história do bandolim na música brasileira.

Eu não sei qual era a falta que meu pai sentia ao ouvir esta música. Infelizmente, nunca conversamos sobre isso. Mas, para mim, esta canção acabou se tornando um símbolo da falta que eu sinto dele.

A mesa é o local em que nossas faltas doem mais. Afinal, é na mesa que nos tornamos completos. Ao redor do pão, do vinho e dos amigos, temos a sensação de que vale a pena viver. Não foi por outro motivo que Jesus Cristo escolheu ser lembrado ao redor da mesa: "todas as vezes em que vocês beberem deste pão e comerem deste vinho, se recordarão de mim".

É por isso que, na mesa, sentimos tanta saudade daquilo que nos falta.

 Nelson Gonsalves - Naquela Mesa - Nelson Gonsalves - Naquela Mesa


NAQUELA MESA

naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor
naquela mesa ele contava histórias
que hoje na memória eu guardo e sei de cor
naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã
eu não sabia que doía tanto
uma mesa num canto, uma casa e um jardim
se eu soubesse o quanto dói a vida
essa dor tão doída, não doía assim
agora resta uma mesa na sala
e hoje ninguém mais fala do seu bandolim
naquela mesa ta faltando ele
e a saudade dele ta doendo em mim
naquela mesa ta faltando ele

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Eu não tive um Falcon


Em homenagem ao Jasão, que sempre obriga os amigos a atualizarem seus blogs, resolvi falar mais um pouco sobre objetos que moram no passado.

Mas agora quero me lembrar de algo que não tive. Uma das grandes frustrações da minha vida foi nunca ter ganhado um Falcon de presente (felizmente, não fiquei com cara de Falcon por causa disso).

Por que será que minha mãe nunca me deu um Falcon?
Como diria a Sandra, eu devo estar ficando velho. Guimarães Rosa deve ter se inspirado na Sandra quando fez o Riobaldo dizer: "toda saudade é uma espécie de velhice".

Será que a gente ainda encontra o Falcon nas lojas?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Confidências



Um dos poucos objetos do meu passado que guardo com cuidado é uma máquina de escrever da Olivetti. Talvez porque, nos momentos de desconfiança, eu pense que o único aprendizado "acadêmico" realmente útil da minha vida tenha sido o cursinho de datilografia do Senac.

Nesta semana, tive dúvida se já havia apresentado minha Olivetti para a Júlia.

"Filha, você conhece uma máquina de escrever?"
"Claaaaarrrro, papai!"
"Você viu a máquina do papai?"
"Você tem uma?", ela perguntou espantada.
"Tenho.Não foi ela que você viu?"
"Não, papai. Eu vi uma máquina na excursão que a escola fez a um museu"



Se a Júlia conheceu uma máquina de escrever em um museu (quantos trabalhos de escola eu fiz na minha velha Olivetti!), o que dizer do meu primeiro e único aparato mais ou menos parecido com um vídeo-game: o telejogo.

Pra Júlia eu não vou perguntar. Mas, e você: conheceu o telejogo? Se não teve esta oportunidade, não sabe o que perdeu. Nem se comparava a um... atari, mas como era bom jogar tênis girando dois seletores parecidos com aqueles de aumentar o volume das antigas TVs.

Ainda que o presente seja maravilhoso, o passado sempre nos atormenta com suas pequenas coisas. A vida é muito mais um passeio de carrossel do que uma viagem por uma auto-estrada.

Gosto de olhar para trás, às vezes com alegria, às vezes com dor, mas sempre valorizando a saudade.

Estou me lembrando de Drummond

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

14 Bis



Nesta semana se apresentaram juntos, no Palácio da Artes, 14 Bis e Marcus Viana (Sagrado Coração da Terra). Mineiro sabe o que é isso.

Eu cresci ouvindo 14 Bis, embora muitos amigos achassem insuportável os falcetes do Fávio Venturini. Deixa pra lá. Vou morrer confessando minhas preferências musicais, ainda que elas não agradem à turma mais "descolada", ou sofisticada.

O 14 Bis era (ainda estão por aí, mas eu mudei) uma mistura particular de melodia e poesia, que construia uma certa "identidade montanhosa" do mineiro. Somos gente que observa, escuta, contempla, se esconde do barulho quando quer ouvir o coração. Quando vezes fiz isso ouvindo o 14 Bis.

Pra reforçar a nostalgia, selecionei uma canção que não é das mais conhecidas neste Brasil afora.

 14 Bis - Pequenas coisas


PEQUENAS COISAS

Trago um pedaço da noite
Junto comigo
Bebo outro gole, outra chuva
Corro perigo
Cada instante que ouço bater
Meu coração dentro de mim
Ouço as palavras do vento
Me confessar
Que desde o início dos tempos
Busca chegar
Onde possa se transformar
Numa brisa
Para transportar e guardar
O perfume das flores
Os pequenos murmúrios
Folhas tristes do outono
E o jeito do amor
Sigo no rumo da manhã
Rindo sozinho
Dos pensamentos que tenho
Com festa e vinho
O ar da noite - sopro de vida
Me lembrando
O que eu esqueço existir



quarta-feira, 14 de maio de 2008

O inferno são os outros



Nesta semana, pela segunda vez, vi a seguinte frase em um destes adesivos de automóveis: "a força da sua inveja é a velocidade do meu sucesso".

Fiquei extremamente incomodado. Não pelos equívocos da afirmativa (e são muitos), mas pelos traços de intolerância que ela revela. Quando alguém prega um adesivo assim no carro, estampado como um princípio de vida, parece estar apontando uma metralhadora para qualquer pessoa que apareça na frente.

Se eu paro o meu carro atrás, torno-me alvo do sujeito. Quer queira, quer não queira. Afinal, o motorista bem sucedido insiste em dizer que todo mundo que cruza pela avenida é invejoso.

Como diria Sartre, "o inferno são os outros". Ou melhor, o inferno é a nossa porção presente no outro, sobre a qual não temos controle, contra a qual nada podemos. É deste inferno que o indivíduo parece tentar se proteger quando prega adesivos mal-educados no vidro do carro.

Diante da intolerância, da ignorância, da falta de perspectivas que assola tanta gente, vou lembrar, de novo, Cazuza:

 Cazuza - Blues Da Piedade


BLUES DA PIEDADE

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já crescem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade
Vamos pedir piedade...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Quem sabe isso quer dizer amor


Lô Borges é uma das faces da chamada "música mineira": a turma que bebe nas águas do clube da esquina.
Ele produz pérolas que precisavam fazer mais sucesso.

Esta, em parceira com Márcio Borges, ficou mais conhecida na voz do Milton Nascimento. Mas eu prefiro manter com o autor.
Nas músicas do Lô, melodia e poesia parecem feitas uma para a outra.

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo a frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira


Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois,
Sinais de bem, desejos de cais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor, dos temporais,
de céu azul das flores de abril
Pensar além do bem do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu

O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele, tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer!

Pensei no tempo, e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar

Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você

O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele, tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer!


 Lí´ Borges - Quem sabe isso quer dizer amor


Mas, se você não conhecia a canção, e gostou muito, segue a versão com o Mílton Nascimento:

 MILTON NASCIMENTO - QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Elizabeth Barret Browning



Quem me dera falar de amor como ela.
Esta é uma poeta inglesa do século XIX, traduzida para o português por Manuel Bandeira (que dupla!).
Este soneto é considerado um dos mais belos poemas escritos por uma mulher em língua inglesa (não me perguntem quem fez esta eleição):

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Conversa de taxista



Sumi um pouco porque tenho viajado bastante.
Uma das coisas boas nestas horas são as conversas com os taxistas.
Veja esta, da semana passada.

Assunto 1: o trânsito
"Não tá dando mais para dirigir. Também, todo mundo pode comprar carro e pagar prestação de 200 reais."

Assunto 2: a violência e as regalias dos presos
"O problema é que os presos têm muita mordomia aqui: comida balanceada, visita íntima, banho de sol... eles tinham que ficar trabalhando com corrente amarrada na perna".

Assunto 3: redução da maioridade penal
"Também, aqui estes cavalões de 16, 17 anos, podem fazer qualquer coisa que não vão presos".

Assunto 4: Estatuto do Desarmamento
"Só no Brasil para votarem uma lei proibindo o cidadão de bem de usar arma. Agora o bandido vai assaltar a gente com mais confiança porque sabe que você deve tá desarmado".

De repente, surge o assunto 5: a prisão do sobrinho do taxista
"Meu sobrinho comprou uma arma pra se proteger do ex-namorado da namorada dele, que é um marginal da favela. Acabou preso e eu tive que pedir para um amigo meu, advogado, ir lá tirar ele da cadeira. Coitado, foi preso 5 dias depois de fazer 18 anos. Se fosse antes, não tinha ido pra cadeia. Ele sofreu muito nos 10 dias que ficou preso. A situação na cadeia foi igual um inferno. Ele só comia se os outros presos deixassem. Até converteu a Jesus. Por isso é que eu digo que a gente tem que orar e vigiar".

Você acha que é ficção de blogueiro? Não é não. Ele falou tudo isso.

Eu nunca sei se o sensacionalismo da mídia ajuda a construir os argumentos do cidadão comum ou se o ser humano é, por natureza, tão contraditório e individualista.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Pecados capitais


Todo católico aprende no catecismo a lista dos sete pecados capitais: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça.

Eis que agora o Vaticano resolve "lançar" novos pecados capitais. Na lista divulgada no último final de semana, constam, dentre outros, a manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição ambiental.

Será que, sendo pecado a partir de agora, teremos que parar de dirigir nossos automóveis, evitando a poluição do ar?

Quando o Vaticano vai dizer que acumular tesouros na terra é um pecado capital?

terça-feira, 4 de março de 2008

Uma canção para hoje

Hoje me deu vontade de ouvir Roberta Sá.
Compartilho com vocês.


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Amor
Amor que nunca cicatriza
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou.
Que a vida a dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor.
Acho que estou pedindo uma coisa normal
Felicidade é um bem natural.
Uma
Qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem mais que também não faça mal.
Meu coração precisa...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Amor e moral


O amor é a superação da moral.

É de Santo Agostinho a conclusão, descrita na célebre frase: "Ama e faze o que quiseres".

Onde não existe amor, a lei é necessária. Mas a lei pode voltar para o amor, de onde vem. É o que propõe Jesus: "Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: 'ame o seu próximo e odeie o seu inimigo'. Eu porém vos digo: amem os seus inimigos e orem por aqueles que lhes perseguem".

Ou, como diria Paulo aos cristãos do primeiro século: antes da graça, era necessária uma lei que atuasse como um pedagogo. Agora, não mais.

Antes, o amor é a origem da moral: "se o amor não fosse anterior à moral, o que saberíamos da moral? E o que ela nos tem a propor de melhor que o amor do qual ela vem, que lhe falta, que a move, que a atrai?" (Sponville)

Onde há amor, não é necessário impor outras virtudes. Por que uma mãe ama o filho, ainda que ele tropece? Quando conseguimos perceber nossos tropeços? Como diria Kant, é o amor que tudo comanda. Ou, seguindo Spinoza, “toda a felicidade ou infelicidade consiste somente numa coisa, a saber, na qualidade do objeto ao qual aderimos pelo amor”.

Para fechar este confuso labirinto, pensemos novamente na filosofia de Riobaldo: "O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão".

Como Deus ama?


Deus é amor, afirmam os textos bíblicos. Ele criou o mundo por amor.

Mas será que Deus criou porque precisava de algo para se completar? Se assim fosse, ele não seria perfeito. Entender o amor de Deus pode ser um bom caminho para que entendamos a melhor maneira de amar.

Segundo Simone Weil, “a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou-se de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. Deus negou-se em nosso favor, para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. Esta resposta, este eco que depende de nós recusar é a única justificativa possível à loucura de amor do ato do criador.
As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras”.


Alain complementa: “O novo Deus é fraco, crucificado, humilhado... Não digam que o espírito triunfará, que terá potência e vitória, guardas e prisões, enfim a coroa de ouro. Não... É a coroa de espinhos que ele terá”

Amar não é reafirmar o nosso poder.

Amar é esvaziar-se

As "sem" razões do amor


Tirei férias, do trabalho e do blog. Nesse período, resolvi ler sobre um tema que tem me interessado: o amor. Meu objetivo é reencontrar os caminhos desta palavra esvaziada de sentidos. Nos próximos dias, vou postar algumas coisas sobre o tema.

Quero começar pensando na possibilidade de que o amor seja mais dar que receber. Ou, numa comparação filosófica, mais spinozista do que platônico.

Sobre isso, duas citações. A primeira, do grande sábio dos sertões, Riobaldo Tatarana, referindo-se à amizade:

“Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou o- amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é”.

Agora, Pavese: “Você será amado no dia em que puder mostrar sua fraqueza sem que o outro se sirva dela para afirmar sua força”

Seguido do comentário de Sponville:“Esse amor é o mais raro, o mais precioso, o mais milagroso. Se você recua um passo, ele recua dois. Simplesmente para lhe dar mais lugar, para não esbarrar em você, para não o invadir, não o oprimir, para lhe deixar um pouco mais de espaço, de liberdade, de ar, e tanto mais quanto mais fraco o sentir, para lhe impor sua potência, nem mesmo sua alegria ou seu amor, para não ocupar todo o espaço disponível, todo o ser disponível, todo o poder disponível...”

Não é fácil aprender a amar assim, como tentam ensinar os cristãos. Eles proclamam que Deus é amor. Será que podemos aprender algo com esta afirmativa? Vou falar sobre isso depois.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A fome (ou a fartura) no mundo

Você sabe quanto uma família gasta para se alimentar durante uma semana?
Depende...
da família e do país.

Nos Estados Unidos




No Japão



Na França



No Equador



Na Mongólia



No Chade

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Eutanásia


Esta crônica do Rubem Alvez foi publicada na Folha de São Paulo desta terça,08/01.
O tema é polêmico.
Mas só quero dizer que concordo com ele.

"SEMPRE QUE SE FALA EM EUTANÁSIA ,os seus opositores invocam razões éticas e teológicas. Dizem que a vida é dada por Deus e que, portanto, somente Deus tem o direito de tirá-la. Eutanásia é matar uma pessoa e há um mandamento que proíbe isso. Assim, em nome de princípios universais, permite-se que uma pessoa morra em meio ao maior sofrimento.
Pois eu afirmo: sou a favor da eutanásia por motivos éticos. Albert Camus, numa frase bem curta, disse que, se ele fosse escrever um livro sobre ética, 99 páginas estariam em branco e na última página estaria escrito "amor". Todos os princípios éticos que possam ser inventados por teólogos e filósofos caem por terra diante dessa pequena palavra: "amar". Deus é amor. (...)
Mas eu pergunto: a vida não será como a música? Uma música sem fim seria insuportável. Toda música quer morrer. A morte é parte da beleza da música. A manga pendente num galho: tão linda, tão vermelha. Mas o tempo chega quando ela quer morrer. A criança brinca o dia inteiro. Chegada a noite, ela está cansada. Ela quer dormir. Que crueldade seria impedir que a criança dormisse quando o seu corpo quer dormir.
A vida não pode ser medida por batidas e coração ou ondas elétricas. Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso. Admitamos, para efeito de argumentação, que a vida é dada por Deus e que somente Deus tem o direito de tirá-la. Qualquer intervenção mecânica ou química que tenha por objetivo fazer com que a vida dê o seu acorde final seria pecado, assassinato.
Vamos levar o argumento à suas últimas conseqüências: se Deus é o senhor da vida e também o senhor da morte, qualquer coisa que se faça para impedir a morte, que aconteceria inevitavelmente, se o corpo fosse entregue à vontade de Deus, sem os artifícios humanos para prolongá-la, seriam também uma transgressão da vontade divina. Tirar a vida artificialmente seria tão pecaminoso quanto impedir a morte artificialmente, porque se trata de intromissões dos homens na ordem natural das coisas determinada por Deus.
A vida, esgotada a alegria, deseja morrer. O que eu desejo para mim é que as pessoas que me amam me amem do jeito como eu amo os meus cachorros." (Rubem Alves)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Desejos de ano novo


Quando começa um novo ano, a gente sempre pensa em desejos.
O que você deseja em 2008?

Na verdade, desejamos apenas ser feliz. Como disse o Renato Russo: "toda dor vem do desejo de não sentirmos dor".

Para o Spinoza, a alegria, a tristeza e o desejo são os sentimentos básicos, dos quais derivam todos os outros. Desejamos coisas que nos ajudem a aumentar a alegria e/ou diminuir a tristeza. Ele afirma ainda que nós não desejamos as coisas porque elas são boas, mas pensamos que as coisas são boas porque tendemos para elas.

Sendo assim, ouso dizer que nem todo desejo é bom.

Vou à pergunta inicial: o que você deseja em 2008?