sábado, 27 de dezembro de 2008

É claro que o sol vai voltar


365 dias e, mais uma vez, nós temos a chance de recomeçar. A definição do calendário é arbitrária, mas segue a lógica da natureza. Em 365 dias, vivemos as quatro estações, um ciclo que se completa.

Sinto falta de mais recomeços. Talvez devêssemos festejar cada nova estação. Dividir o ano em quatro, a fim de que sempre estivesse próxima a possibilidade de refletir sobre o passado e ver o futuro com os olhos da esperança.

Quando nossas atenções se voltam para a simbólica passagem do tempo, sempre existem duas possibilidades: ou nos desesperamos porque não conseguimos impedir que nossas angústias sigam juntas conosco para o novo tempo ou entramos em êxtase porque há portas que se abrem de forma clara em nossa frente.

Esse é um exercício rejuvenescedor. É por isso que eu gostaria de vivê-lo em cada estação.

Eu não sei onde está seu coração nesta passagem para 2009. Há mais expectativas pelo novo que se aproxima com suas surpresas ou angústias por não ter as coisas sob controle?

Neste momento, só há uma certeza: é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez!

 14 Bis - Mais uma Vez


MAIS UMA VEZ (Flávio Venturini e Renato Russo)

Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende

Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo

Quem acredita sempre alcança

Nunca deixe que lhe digam
Que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Natal é uma criança


Se tirarmos o corre-corre das compras, as luzes que iluminam as praças, o cheiro de peru assado, os bêbados colhidos pela madrugada, restará uma criança deitada na manjedoura.

O Natal deveria ter uma criança no centro de nossas atenções. O Natal é o nascimento de uma criança. Mais que isso, é Deus se fazendo criança.

Sabe por que isso? Para nos alertar de que é preciso continuar sendo criança. Como deseja Manoel de Barros:

Tenho candor
por bobagens.
Quando eu crescer eu vou ficar criança.


O próprio Jesus, o mesmo da manjedoura, nos alertou para isso:

Quem não se tornar como uma criança, de modo algum entrará no Reino dos Céus.

Alguns pensam que devemos ser crianças para preservar a pureza, a honestidade, a bondade, para nos livrarmos do preconceito, dos maus pensamentos.

Eu não. Acho que precisamos voltar a ser crianças para reaprender a brincar. Brincadeira como coisa séria, feito nas imaginações da Beatriz. A criança é alguém que só quer brincar. Quando cresce, vai desaprendendo tudo, e ganhando uma série de preocupações inúteis.

Só quem reaprende a brincar, como criança, pode abrir os olhos para o que parece invisível: a fantasia da vida.

A vida é uma fantasia.
O Natal é uma criança.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Fanatismo (Florbela Espanca)



Minh' alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
pois que tu és já toda minha vida
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina, fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como um deus: princípio e fim!...

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco,
diante do que sinto.

 Fagner - Fanatismo

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Deu no jornal


A Beatriz ainda não sabe o que é um jornalista. Tem só 3 anos. A Júlia, com 9, ainda está longe de escolher uma profissão, mas já consegue definir com precisão o espírito do jornalismo.

Na semana passada eu estava mostrando para ela o local em que havia presenciado um acidente grave. Fui questionado: "alguém morreu, papai?". Eu não soube responder, mas ela mesma resolveu o dilema: "não deve ter morrido, porque eles não mostraram na televisão. Todo dia eles mostram alguma morte no jornal".

De forma simples, Júlia descreveu o que nós poderíamos descrever como um dos princípios da ideologia da informação no jornalismo. Como diria o ditado repetido nas redações: "good news is bad news".

Notícia é o que transgride uma realidade previsível. Ninguém espera que um repórter se apresente ao vivo num telejornal para dizer que todos os vôos chegaram no horário e não houve imprevistos. O que se deseja é que ele sempre tenha um "caos aéreo" para descrever.

Não estou aqui defendendo um jeito de fazer jornalismo. Meus argumentos servem apenas como introdução para uma pergunta (a maior introdução da história):

- Por que sempre nos incomodamos com o que é constante, previsível, supostamente desprovido de desfechos espetaculares? Por que não temos mais a capacidade de nos emocionar com aquilo que encontramos no cotidiano?