terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Para onde?



Acordei querendo discutir o dilema que me acompanhou durante a noite.

O que seria melhor?
- Nunca ter desejado saltar de para-quedas ou ter desistido de pular já no avião?

O que machucaria mais?
- Não ter conhecido a pessoa amada ou ter sido rejeitado por ela?

O que seria mais frustrante?
- Não ter se classificado no vestibular ou ter sido o primeiro excedente?

A sensação de estar perto do objeto do desejo ou da realização de um sonho, sem, entretanto, nunca alcançá-lo, faz de nós seres angustiados. Vista assim, da perspectiva das trivialidades apresentadas nas questões acima, eu diria que a dúvida não existe: melhor não sentir a possibilidade daquilo que nunca será. Mas, e se as questões forem outras?

O que você deseja?
- Tomar consciência de si ou ser abandonado à própria sorte?

O que nos faz mais felizes?
- Ter um encontro diário com nossos limites ou manter uma falsa impressão sobre nós mesmos?

O que nos torna melhores?
- Recomeçar sempre ou permanecer absorvidos pelas mesmas imagens e impressões que a vida nos apresenta?

Tenho um pedaço de papel amarelado que mantenho há uns 20 anos entre meus livros. Não me lembro o porquê, mas escrevi numa folha mal recortada, amassada, e guardei. É um trecho do Kierkegaard:

"Se arrisco e me engano, seja! a vida castiga-me para me socorrer. Mas se nada arriscar, quem me ajudará? Tanto mais que nada arriscando, no sentido mais lato (o que significa tomar consciência do eu), ganho ainda por cima todos os bens deste mundo - e perco meu eu".

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Jornalista-Blogueiro-Intenso,

Gostei desta nova fase, produção intensa.
Sofrimento faz parte de qualquer busca, não vou negar. Mas o que este ou qualquer sofrimento é perto da possibilidade? Tem o sofrimento do quase. Quase ter. Quase ver. Quase tocar
Podemos nos proibir de não querer. Mas, talvez perdêssemos a melhor parte da vida. A parte que ainda não temos, mas buscamos. Amar o que não está. O que não estará. “Amar uma sempre diversa realidade” (Vinícius).
Tem dias que parece que a parte que buscamos está mais próximo. Quase a distância de um toque. Mas, tal como afresco de Michelangelo, que mostra Adão e Deus, nunca a toco. Há dias que parecemos mais longe do que nunca. Como na música “breguinha pero honesta” que diz que o perigo não é estar longe, “é ter você perto dos olhos e longe do coração”.
Longe e perto. Nossos alvos mudam. As buscas continuam. Quase ou muito distante.
um ab
Edu

Qualquer Um (Bigduda Nobody) disse...

Caro,


Esqueci deste poema q me lembrou que o que queremos é tão pouco e tanto...


Sólo quiero cinco cosas,
cinco raices preferidas.


Una es el amor sin fin.


Lo segundo es ver el otoño
No puedo ser sin que las hojas
vuelen y vuelvan a la tierra.


Lo tercero es el grave invierno,
la lluvia que amé,
la caricia del fuego en el frío silvestre.


En cuarto lugar el verano
redondo como una sandía.


La quinta cosa son tus ojos,
no quiero dormir sin tus ojos,
no quiero ser sin que me mires:
yo cambio la primavera
por que tú me sigas mirando.

(Pablo Neruda)

Anônimo disse...

Nunca a máxima nietzschiana do homem que está se equilibrando numa corda esticada em cima de um abismo fez tanto sentido...

Anônimo disse...

Querido amigo.

Talvez seja por esta razão - acordar pensando nas coisas que te incomodaram a noite - que você não consegue dormir nem mesmo tomando aquele comprimidinho básico que te dei e que em mim faz tanto efeito. Essa sua forma de escrever encanta a todos nós que temos o prazer de saborear suas palavras escritas. Legal esta análise do querer e não querer, pelo simples medo de não se conseguir ter o que se quer. Mas, como disse o filósofo Edu, talvez, se agíssemos assim, "perderíamos a melhor parte da vida".

Um abraço do amigo que te admira pra caramba!

Xandão

Sandra Leite disse...

Ronaldinho,

Sabe que adoro seu texto né? Pode ficar convencido :) E escolher é preciso! Escolhi ser Maria...

beijos