quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Qual é a lógica?


Se alguém souber o motivo, que me diga. Por que os hotéis fornecem sabonetes e shampoos nos quartos, mas não disponibilizam cremes dentais? Nunca entendi esta lógica da hotelaria.

Aliás, não é nada fácil compreender a lógica do setor. Sempre fico em um hotel de São Paulo (EZ Aclimação) e demorei bastante a conseguir decorar o "endereço" dos meus quartos. Se a chave tem o número 1072, qual é o andar? Você errou se disse décimo. O andar é o sétimo, de 07. Quando você receber a chave 1053, saiba que está no quinto andar. Isso mesmo. Os dois números do meio indicam o andar. Não me pergunte o porquê.

Outra que também tem endereço: Hotel Rondônia, no Rio. Não foi fácil descobrir que a tecla A do elevador indicava a saída. Já tinha visto R, de recepção; P, de portaria; L, de lobby. Mas o que significaria A? O recepcionista esclareceu: acesso.

Imagino que, desde que o Turismo virou ciência (o profissional da área se chama turismólogo), eles devem ter decidido construir um conhecimento mais sofisticado. Talvez venha daí a lógica dos exemplos que acabei de citar.

Mas esse não é um privilégio dos hotéis. Quantas vezes na vida não nos acostumamos com coisas, situações e estilos que soam estranhos aos outros? A nossa lógica pode ser mais particular do que imaginamos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Casinha branca


Você já teve a experiência de enxugar gelo?

É assim que eu me sinto nas sextas-feiras de certas semanas. Como esta, por exemplo. Faço mil coisas, ando pra lá e pra cá, mantenho a cabeça a mil e, no final, sinto que não saí do lugar.

Nestas horas, lembro-me de uma frase de Kierkegaard, que me foi apresentada pelo Rubem Alves, para nunca mais sair da minha cabeça: "pureza de coração é desejar uma só coisa".

Acho que acredito firmemente nisso. Cada ser humano deveria desejar uma coisa apenas durante toda a existência. Não importa o quê, mas um desejo só nos basta.

Não vou tentar resumir aqui o meu desejo. Não seria capaz. Exatamente porque, nestes momentos, sinto carregar comigo o sentimento do autor de Eclesiastes (um dos mais filosóficos textos bíblicos): "tudo é correr atrás do vento".

Ainda vou descobrir uma maneira de não me desviar do meu desejo.

Não estarei onde não se possa ver uma luz, não darei ouvidos a palavras que não construam sentido, não gastarei minhas forças em projetos que não valham a pena.

Quero sentir as marcas de cada passo que eu der, quero a paz de quem caminha ao encontro da coisa desejada.

Talvez eu queira mesmo é achar a minha "casinha branca", este arquétipo tão brasileiro de uma vida cheia de sentido.

 Gilson - Casinha branca


CASINHA BRANCA (Gílson)

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que não vejo em minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho a perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer ...


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Chorar de felicidade


Não choro muito. Infelizmente, fui treinado a controlar minhas emoções. Por isso, não posso falar sobre o choro, mas sobre a vontade de chorar.

Acho que tenho sempre muito mais vontade de chorar nos momentos alegres. As tristezas me fazem ser racional. As alegrias me deixam emocionado.

Quando estamos felizes, o nosso choro (ou desejo de chorar) é um grito que tenta eternizar a beleza. Nunca é bom saber que a alegria completa vai e vem, sem que a gente perceba como.

Falo isso para relembrar a roda de viola do último sábado (não chorei, é bom que se diga). Cantamos coisas do arco da velha. Por mais que meu amigo Eduardo não concorde, a felicidade sempre mira o passado. Não que ela esteja apenas lá. Mas, de lá, vêm algumas provas de como é possível ser feliz.

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NOTURNO

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio
Mas deixaram suas marcas...

Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania
Vem mais forte...

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou...

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo, da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança...

Nessa estrada
Só quem pode me seguir
Sou eu!
Sou eu! Sou eu!...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lugares comuns


Não vou esconder. De vez em quando assisto Fantástico.
No último domingo eles apresentaram uma reportagem sobre a queda dos índices de natalidade no Brasil. Atualmente, registramos uma média de 1,8 filho por mulher.

O Fantástico me fez lembrar como nos contentamos com análises baseadas no lugar comum. Quando o assunto é a pobreza no Brasil, fico impressionado com o número de pessoas que ainda saem com aquela: "precisamos investir no controle de natalidade".

Há muito tempo, as taxas de natalidade deixaram de ser combustível para o aumento da pobreza.

Mas tem lugar comum que revela ainda mais preguiça de pensar. Como diria meu amigo Eduardo Nunes, se, em um processo de seleção para uma vaga de emprego em alguma organização que trabalha com desenvolvimento social, o candidato pronunciar a frase seguinte, deve ser imediatamente mandado para casa: "não devemos dar o peixe, mas ensinar a pescar".

Confesso: não tenho muita paciência com pessoas que debatem a partir de frases feitas.

Gosto de uma frase que vi pichada em um muro, atribuída ao Millôr: "a ânsia de parecer genial, revela cada imbecil!"