quarta-feira, 27 de maio de 2009

Eles estão chegando


Eu contei aqui no blog que os meus amigos Xandão e Marilene estavam seguindo para o passado numa viagem a Portugal.
Agora, sinto-me na obrigação de dizer que eles estão voltando.
Antes, mandaram esta foto dos amigos do coração que reencontraram em Lagos.

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas...

Valei-me Deus! Que mesa é esta, que não tem nem pão nem vinho?

Onde já se viu celebrar a comunhão desta maneira?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Machadianas


Decidi fazer uma viagem ao universo de Machado de Assis, lendo/relendo os romances dele.
Por que isso agora?

Primeiro porque ouvi alguns críticos fazendo comparações entre o estilo do Chico Buarque (no último romance, Leite Derramado) e o estilo do Machado.
Confesso que a caracterização do Rio de Janeiro de outrora proporciona algumas semelhanças. Para além disso, não me julgo capaz de emitir opinião.

Depois, sinto-me atraído por Machado de Assis há algum tempo, desde que meu amigo Jason se apaixonou por nosso maior escritor. No seu mestrado, Jason estudou o discurso filosófico em Machado. Eu ficava aqui no meu canto perguntando: onde é que o Jasão encontrou filosofia nestes romances?

Decidi conferir. Nesta semana, revirei alguns livros bem antigos que tenho nas minhas prateleiras. Coisas como José de Alencar, Eça de Queiroz, Lima Barreto... Pensei em começar por Memórias Póstumas de Brás Cubas. Mas descobri que, na minha biblioteca, só havia um livro de Machado de Assis: Helena.

Foi por aí que comecei minha viagem. Impossível ler Helena sem pensar que você esteja assistindo a uma novela da Globo.

Eis que, para minha surpresa, descubro a filosofia de que tanto falava o Jason. Ler Machado de Assis na adolescência é muito diferente de ler agora.

Marquei esta frase pra guardar nas minhas memórias. É de Úrsula, uma das personagens do livro:

"As dores alheias fazem lembrar as próprias, e são um corretivo da alegria, cujo excesso pode engendrar o orgulho".

Não há nada mais importante que o balanço entre a alegria e a tristeza.
Gente que se pensa alegre demais não sabe fazer poesia. Não é o que diz o Vinícius?

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não


Viva Machado de Assis.
É com ele que eu vou nos próximos meses.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A gripe, segundo José Serra

Este homem já foi Ministro da Saúde.
E agora quer ser Presidente.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Uma carta de amor


Cogitei lhe propor um jantar,
com o fim de dizer aquelas juras de amor que você espera.
Preferi escrever esta carta, porque,
como você crê,
não sou dado a demonstrações públicas de afeto.
Na carta, nos encontramos apenas nós dois.
Bem que eu fui tentado por outras artimanhas.
Quem sabe,
deixar para lhe escrever no aniversário.
É uma data mais adequada para este tipo de prosa.
Esperando até dezembro,
talvez eu pudesse contar com ocasiões em que
não fosse necessário dizer do meu amor em palavras.
Sei que assim, sem razões aparentes, não é fácil deixar de lembrar que
“as cartas de amor são ridículas”.
É verdade que você está com a razão:
preciso tentar lhe dizer coisas bonitas.
Mas penso que não consigo.
Posso me inspirar na beleza que há em você.
A maior delas, a generosidade que apaga as minhas desmedidas impaciências.
Também não consigo escapar dos olhos verdes, do sorriso acolhedor,
da pele macia, das...
Va lá,
Se não posso dizer, posso contemplar todos os dias
a sua beleza.
Bem aventurado que sou.
Prometo escrever outras cartas.
Um dia eu aprendo a dizer que te amo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O ciúme pode ser uma rosa


Cercado por certezas, nunca me achei uma pessoa ciumenta.
Sempre recorri a certa filosofia, para a qual o ciúme está na prateleira dos sentimentos indesejáveis.
Eu não gostaria de ser ciumento conforme descreve Spinoza:

“Se alguém imagina que a coisa amada se une a outro pelo mesmo laço de amizade ou por um laço mais estreito ainda que aquele com que ele a fruía sozinho, será afetado de ódio para com a coisa amada e invejará o outro. Este ódio à coisa amada, junto com a inveja, chama-se ciúme".

No ciúme de Spinoza, parece-nos insuportável imaginar que o outro pode ser feliz também sem nossa presença. Assim, passamos a odiá-lo.

Na filosofia, tudo é.
Na poesia, tudo pode vir a ser.

Eis que agora Chico Buarque traz em seu Leite Derramado uma definição mais bela de ciúme:

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como um rosa. Senão, no intante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura".

Ou seja, há o tempo certo de revelar o ciúme.
Todo o resto depende disso.

Sentir ciúmes pode ser simplesmente dizer: olha pra mim, que eu quero estar perto de você nos melhores momentos.

Dando um pouco de razão a Spinoza, é mesmo bom estar perto do outro em todos os instantes de prazer. E por que não dizer isso sempre?

Como quem oferece uma rosa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O mundo não vai acabar



Está vendo esta imagem aí em cima?
Se você leu rápido, deve estar imaginando que se trata de mais uma notícia sobre o grande desastre que bate à porta da humanidade: a gripe suína.

Nada disso. É uma manchete do UOL em outubro de 2005, chamando a atenção para o fato de que a "pandemia de gripe aviária deve chegar ao Brasil" (É isso mesmo; a outra, a aviária). O "especialista" entrevistado na ocasião dizia: "não tem jeito de não chegar. Em 1918, quando houve a gripe espanhola, o vírus influenza dava a volta ao mundo em cerca de quatro meses, devido aos meios de transporte da época. Hoje, isso acontece em 4 dias".

Hilário. Você se lembra da gripe aviária? Pois é, escafedeu-se, sem chegar ao Brasil.
O "especialista" se esqueceu de dizer que, também diferentemente de 1918, os sistemas de vigilância sanitária e de tratamento contra gripes evoluíram.

Volto à "catástrofe" de 2005, para lembrar que a mistura de uma imprensa sensacionalista com um bando de "especialistas" à procura de notoriedade é o que há de mais perverso em termos de comunicação nos nossos dias.

Não comece a fazer estoques de comida e máscaras na sua casa.
Não se recuse a receber visitantes mexicanos na sua cidade.
Não deixe de comer carne de porco.
Não assombre seus filhos assistindo ao Jornal Nacional, recheado de mapas da pandemia e correspondentes espalhados pelos quatro cantos, mostrando o mundo em estado de alerta.

Jornalistas gostam de tornar os fatos mais, diria, charmosos.
Isso faz parte da cadeia de valor do jornalismo moderno.

Não se preocupe. Em breve, descobrirão outro tema para as manchetes.
Quem sabe, voltem a falar da febre da vaca louca.

sábado, 2 de maio de 2009

Certas canções (meme)


Música e poesia. Meu desafio é descobrir momentos em que essa combinação caiu perfeita.

Quais seriam versos marcantes de 10 músicas brasileiras? Não vale repetir autores. Seria fácil fazer uma lista completa do Chico ou do Cazuza (no meu caso).

Convido três amigos blogueiros a ajudar na tarefa: Sandra (Isso é bossa nova), Jasão (Não há pensameto raro) e Danilo (Cream and extra sugar)

Segue minha listinha:

O TEMPO NÃO PARA (Cazuza)
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

ÍNDIOS (Legião Urbana)
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.


CERTAS CANÇÕES (Tunai)

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece:
"Como não fui eu que fiz?!"

ENCONTROS E DESPEDIDAS (Milton e Brant)
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero...

PEDAÇO DE MIM (Chico Buarque)
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

O MUNDO É UM MOINHO (Cartola)
Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

ESQUINAS (Djavan)
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá

CHEGA DE SAUDADE (Tom Jobim e Vinícus)
Chega de saudade
A realidade é que, sem ela, não há paz
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim

JURA SECRETA (Sueli Costa e Abel Silva)
Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que eu não roubei
A jura secreta que eu não fiz
A briga de amor que eu não causei

A FLOR E O ESPINHO (Nelson Cavaquinho)
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

E agora, um pouco de beleza. Cazuza cantando Cartola:
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O MUNDO É UM MOINHO
Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés