quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Os nomes


Na madrugada desta quinta, 23, 25 presos morreram queimados em uma cela da cadeia pública de Ponte Nova, interior de Minas, depois de uma briga entre gangues rivais. Até o final da tarde não haviam sido divulgados os nomes das vítimas. Não houve clamor da opinião pública por esta omissão, como acontecera no caso do acidente com o avião da TAM, há pouco mais de um mês (Nem a turma do movimento Cansei apareceu).

Gosto de refletir sobre a nossa relação com os nomes. Me lembro que na minha cidade natal, Alvarenga, os homens eram reconhecidos pelos nomes das esposas. Meu primo era o Zé da Gracinha. Acho que as mulheres professoras, como a Gracinha, tinham mais valor naquela sociedade em que faltavam ofícios mais relevantes para os homens.

Atrás dos nomes se escondem as imagens e os atributos das pessoas.

Quem nunca emprestou um codinome à pessoa amada? “Amor”, “bem”, “anjo” – são alguns dos tratamentos preferidos por quem ama com paixão. Se eu pronuncio o nome, ou o codinome, trago a pessoa para perto de mim.

Quando a gente não dá valor aos nomes e transforma os sujeitos em estatísticas (feito os presos queimados vivos), diz, ainda que inconscientemente: “esta pessoa não tem parte conosco, não tem direito a um nome que a traga para junto de nós”.

7 comentários:

Anônimo disse...

É mesmo difícil manter uma crônica diária... mas muito melhor do que o falso milk-shake-espeare!

Quanto ao texto, é verdade... não dar, ou simplesmente omitir nomes apenas corrobora com nosso ato contínuo de transformar pessoas constantemente oprimidas em meros anônimos invisíveis - porque não queremos mesmo os ver.

Sandra Leite disse...

Ronaldo,

Sem querer descupar nossa omissão, também a imprensa tem papel fundamental nessa denúncia. Porque sabemos que as mortes continuam nas rodovias, nos presídios, mas parece que não queremos nos envolver com isso.
É a crise que vive a classe média, refém de si mesma.
Parabéns pelo texto e continue ....
E me visite também viu? :-)

abs,

Sandra

Anônimo disse...

Caro Ronaldo,
Nomes? Todos já demos um NOME aos que estão presos: Bandidos. Para a sociedade, nós, isto basta. Poupa-nos de pensar nos nossos crimes diários e reduz nossa idignação com os demais "bandidos" que não são pegos. Nos poucos (geralmente pobres q cometeram crimes contra não-pobres)apanhados, projetamos todo nosso desejo de justiça: que na definição humana é que os outros paguem os erros, os mesmos que, quando somos nós ou os amigos a cometer são apenas deslizes perdoáveis. Daí, no fundo, não só nãoi nos importamos, ficamos felizes, qdo 25 morrem queimados.Sandra culpa a imprensa.É, esta é nossa tendência: acharmos alguém para culpar (os bandidos, a imprensa, os políticos, etc) pela impiedade. A percepção do outro é o q alavancou o ser-humano à modernidade, a perda desta nos levará à barbárie.
1 ab

Ronaldo Martins disse...

Concordo que nós somos os responsáveis. Mas estamos sempre ocupando um papel, inclusive como jornalistas. A minha preocupação hoje é tentar entender como nós, classe média, abordamos a questão.Tenho a impressão de que Edu fala da mesma classe média que Sandra, seja lá o que for isso. Eduardo, como sociólogo brilhante, pode nos explicar.

Anônimo disse...

papai,
por que você fez um site se você já
tem e-mail?
bejos,
Júlia

Sandra Leite disse...

Vai, Ronaldo!!!
Quero ver a resposta pra Julia....:-)
Muitas perguntas, poucas respostas... :D

sandra

Sandra Leite disse...

Edu,

Classe média + imprensa = efeito bombástico!
Não são os únicos, mas com uma tremenda responsabilidade!