segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Compartilhando a vida


“Nada é realmente seu quando você não pode dividir com as outras pessoas”.

Li a frase em uma destas revistas de companhias aéreas. Parece um bordão de almanaque, mas dizem que é um ditado muito popular na Hungria. Não importa a origem. A afirmativa pode significar bastante.

Quando parei para pensar no conteúdo que estava posto ali me veio logo à mente o encontro de Jesus com um jovem rico, narrado nos Evangelhos. Confrontado com a proposta de Jesus (dividir tudo o que tinha com os pobres), ele fez silêncio e prosseguiu no seu caminho. A verdade é que o dinheiro do qual o jovem tinha posse não lhe pertencia. E por que não? Porque era um dinheiro que o aprisionava ao egoísmo, ao individualismo, à opressão dos mais pobres, à vaidade. Estes valores eram os verdadeiros donos do dinheiro que haviam emprestado ao jovem. Ele realmente não poderia dividi-lo com os pobres.

Se não temos uma atitude de despojamento em relação aos nossos bens, não podemos dizer que eles nos pertencem. O mesmo vale para os sentimentos que pensamos ter desenvolvido em nós. Quem não pode perdoar o outro, nunca desenvolveu em si o perdão; quem não demonstra carinho para com os filhos, não conhece a ternura; quem não pode chorar com aquele que sofre, não sabe o que é a solidariedade.

É bem verdade que nós confeccionamos cortinas para nos impedir de perceber os sentimentos que não estão desenvolvidos em nós. Por esta lógica, tentamos reafirmar que o outro não merece receber o que nos é mais precioso. Se não estamos dispostos a dividir os sentimentos é porque ainda não os temos.

3 comentários:

Daniel do Amaral disse...

Não me arrisco a lançar mão de jargão jornalístico, coisa que não domino, mas há muitos e muitos anos os jornalistas cansados da objetividade tinham um nome: cronistas. Esta denominação o colocaria na companhia de Drummond, Rubem Braga, etc etc, só que com a rede mundial de computadores à disposição, o que eles só tiveram postumamente. Gostei do que li, por isso escrevi!

Ronaldo Martins disse...

Na verdade, todos nós, jornalistas ou não, podemos ser cronistas. Basta olhar o que acontece à nossa volta e buscar coisas que façam sentido para nós. Quem sabe não podemos fazer isso juntos?

Anônimo disse...

Lembrei da musica...
"Desejo que vc tenha dinheiro mas que de vez em quando vc diga a ele quem é dono de quem"