sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Felicidade sem falta

O que é a felicidade? Não creio que seja um estado perfeito de prazer, mas um jeito sereno de atravessar a vida, no qual podemos encarar plenamente tudo o que vivemos, sejam tragédias ou glórias.

André Comte-Sponville, filósofo do nosso tempo, entende que a idéia da felicidade como o encontro daquilo que sacia a minha sede de prazer pode ser equivocada se o prazer for satisfeito apenas pelo que me falta. É o que dizia Platão: “o que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor”. Se for assim, sempre que obtivermos o que desejamos, sentiremos falta novamente.

Nas palavras do Eclesiastes: “Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros de reis e de províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres. E eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento”.

É neste contexto que Sponville propõe uma nova relação com os prazeres da vida: “há prazer, há alegria, quando desejamos o que temos, o que fazemos, o que é. Há prazer, há alegria quando desejamos o que não falta!” Até quando você conseguirá ter prazer caminhando por um parque com seu amado ou sua amada? Você pode ter prazer contemplando o pôr-do-sol numa casinha branca de varanda? A isso, o filósofo chama de “felicidade em ato”, ou a substituição do desejo que nasce apenas da falta pelo desejo que é potência (na definição de Spinoza): não é a falta que nos faz querer a coisa ou a pessoa, mas sim a possibilidade de gozar plenamente o prazer daquilo que já temos.

4 comentários:

Sandra Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandra Leite disse...

O filósofo precede ao jornalismo ou é a arte das palavras que te leva a filosofar?
Sabia que esse jogo de pensamentos e devaneios ia trazer belos textos.
Jornalistas, como invejo suas palavras!

Continua Ronaldo!

abs,

Sandra

Anônimo disse...

Você anda meio estoico não? rsrs
Confesso que pensei no Sponville enquanto discutiamos a desgraça do Jó...

Ronaldo Martins disse...

Acho que dá mesmo para ler Jó à luz de Spinoza