sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Deus mercado

Uma coincidência. Na semana em que a imprensa se delicia com mais uma crise global do sistema financeiro, chega aos cinemas o documentário sobre o geógrafo Mílton Santos. Autor do livro Por uma outra globalização, Santos é um dos mais ácidos críticos da nova ordem mundial, que aprofunda o poço entre excluídos e incluídos.

O documentário mostra o professor pronunciando uma de suas célebres frases: “O consumo é o novo fundamentalismo”. Permitam-me a pretensão, mas assino embaixo.

A preocupação dos analistas que discutem a quebradeira nas bolsas é de que diminua o consumo nos Estados Unidos. Se os americanos gastarem 1% menos em compras, deixarão de injetar um trilhão de dólares na economia. Os alarmistas vaticinam o fim do mundo se isso acontecer. Temos informações suficientes para fazer o raciocínio inverso. Se todos nós (o andar de baixo do mundo) realizarmos o sonho pequeno burguês de consumir como os americanos, o planeta não vai resistir. Também será o fim do mundo.

Não creio que a luta contra o fundamentalismo do consumo deva ser bandeira apenas dos militantes anti-globalização. Aqueles que têm fé, aqueles que sonham, nas igrejas ou nas praças, deveriam saber que não há um mundo possível enquanto o consumo for a nossa religião.

A gente começa desejando vinhos, carros, viagens à Disney, e não consegue mais deixar de consumir estilos de vida, comportamentos, sentidos para a existência, padrões de relacionamento. Está tudo disponível como numa prateleira de supermercado. Descartável, é lógico.

2 comentários:

Sandra Leite disse...

Ronald,

E ao mesmo tempo, até amores[hoje em dia] encontram-se descartáveis. Lamentável.

abs,

Sandra

Sandra Leite disse...

Já ia esquecendo,

Obrigada pela indicação :-)

Vindo de quem vem é uma honra !!!!

abs,

Sandra