sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Os sinais da Primavera


A primavera está começando e, quando o assunto são as estações do ano, a gente logo é levado a uma conclusão: está cada vez mais difícil enxergar de forma definida as características de um e outro tempo. O frio já não marca data para chegar, a chuva vai e vem sem que a gente possa estar preparado e nunca existe a certeza de quando começa o verão. Os mais velhos afirmam que nem sempre foi assim. Os meteorologistas concordam e chegam a dizer que o ser humano é responsável por tudo isso. Não conseguimos mais vivenciar as características particulares de cada estação do ano porque interferimos de forma irresponsável na natureza.

As reflexões deste despertar da primavera me fazem voltar para dentro de mim mesmo e perceber que nós também já não temos a clareza sobre as diversas estações pelas quais passamos em nossas vidas. Quando o autor de Eclesiastes diz que “há tempo para tudo” em nossa vida, ele tenta nos alertar para o fato de que devemos compreender cada momento e encarar de frente suas singularidades. Se há morte, ela deve ser uma possibilidade de renascimento; se há angústias, elas devem apontar para o futuro; se há dor, ela pode criar a expectativa da alegria.

Será que conseguimos perceber isso? Talvez a nossa vida esteja como as estações do ano. Não sabemos distinguir uma crise da outra, uma alegria da outra, uma dor da outra. Parafraseando os Titãs (para quem “miséria é miséria e riquezas são diferentes”), eu diria que a morte nunca é a mesma, os momentos de felicidade trazem sentimentos diferentes, as angústias apontam para caminhos sempre novos e os sofrimentos ou a esperanças também não são os mesmos.

Se o ser humano é o responsável pelo desequilíbrio da natureza, que desfez a lógica das estações, quem nos roubou a capacidade de compreender os ciclos da nossa vida? Desconfio de que ainda não nos demos conta da relevância desta questão. A sociedade está passando por uma transformação fundamental, que tem como uma das características básicas a perda de referenciais. Há um turbilhão de dúvidas e de possibilidades que nos leva para todos os lados, mas não constrói pontos de contato sobre os quais possamos apoiar. Pode não ser fácil entender este momento, mas cada um de nós deve saber que “há tempo pra tudo”.

3 comentários:

Sandra Leite disse...

Pô, Ronaldo....
Flores pra você, mas nunca as de plástico. Essas não morrem (pegando carona tb com Titãs). Caracoles, você está inspiradissimo!
E só você mesmo pra trazer pro meu dia a resposta que eu precisava " Há tempo pra tudo".
Até pra melancolia. Percebo melhor a beleza da vida pós-melancolia. ´Dias difíceis e você sabe muito bem!
Adorei!!!!

beijos

Anônimo disse...

Como na maravilhosa música do THE BYRDS:

To everything - turn, turn, turn
There is a season - turn, turn, turn
And a time for every purpose under heaven

A time to be born, a time to die
A time to plant, a time to reap
A time to kill, a time to heal
A time to laugh, a time to weep

To everything - turn, turn, turn
There is a season - turn, turn, turn
And a time for every purpose under heaven

A time to build up, a time to break down
A time to dance, a time to mourn
A time to cast away stones
A time to gather stones together

To everything - turn, turn, turn
There is a season - turn, turn, turn
And a time for every purpose under heaven

A time of war, a time of peace
A time of love, a time of hate
A time you may embrace
A time to refrain from embracing

To everything - turn, turn, turn
There is a season - turn, turn, turn
And a time for every purpose under heaven

A time to gain, a time to lose
A time to rend, a time to sew
A time to love, a time to hate
A time of peace, I swear it's not too late!

Anônimo disse...

Caro Ronaldo
The BYRDS? Só dá clássico neste blog, até entre os comentários:->
Primavera deveria ser realmente um período de forte reflexão e ação ecológica. Pena q, fora a modinha de plantar pinus para neutralizar CO2, parece q a sociedade não está disposta a mudar o seu parâmetro de desenvolvimento (basead em consumo e aquisição individual) para melhorar as chances de ar puro e água limpa não virarem commodities + caras do q o petróleo. Todo mundo concorda, mas vc não vê este tema virar central na agenda política a ponto de mudar modos de produção (por exemplo: Pq ninguém questiona os récordes de produção da Petrobrás? Pq não existe inspeção veicular, mesmo com uma lei aprovada para isto há 8 anos? Pq celebramos aumento de renda com apenas metade da população com acesso a esgoto? Pq não se exige q as Casas Bahia da vida provem q todos os móveis q vendem vem de madeira certificada? Teriámos uma listinha longa destas p/ provar q ecologia é 99% discurso, 1% mudança de atitude.
Enquanto acharmos q dá para mudar tudo sem perder o conforto, a primavera continuará época boa para poesia, mas imprópria para ecologia.
Um abraço
eDu