sexta-feira, 22 de maio de 2009

Machadianas


Decidi fazer uma viagem ao universo de Machado de Assis, lendo/relendo os romances dele.
Por que isso agora?

Primeiro porque ouvi alguns críticos fazendo comparações entre o estilo do Chico Buarque (no último romance, Leite Derramado) e o estilo do Machado.
Confesso que a caracterização do Rio de Janeiro de outrora proporciona algumas semelhanças. Para além disso, não me julgo capaz de emitir opinião.

Depois, sinto-me atraído por Machado de Assis há algum tempo, desde que meu amigo Jason se apaixonou por nosso maior escritor. No seu mestrado, Jason estudou o discurso filosófico em Machado. Eu ficava aqui no meu canto perguntando: onde é que o Jasão encontrou filosofia nestes romances?

Decidi conferir. Nesta semana, revirei alguns livros bem antigos que tenho nas minhas prateleiras. Coisas como José de Alencar, Eça de Queiroz, Lima Barreto... Pensei em começar por Memórias Póstumas de Brás Cubas. Mas descobri que, na minha biblioteca, só havia um livro de Machado de Assis: Helena.

Foi por aí que comecei minha viagem. Impossível ler Helena sem pensar que você esteja assistindo a uma novela da Globo.

Eis que, para minha surpresa, descubro a filosofia de que tanto falava o Jason. Ler Machado de Assis na adolescência é muito diferente de ler agora.

Marquei esta frase pra guardar nas minhas memórias. É de Úrsula, uma das personagens do livro:

"As dores alheias fazem lembrar as próprias, e são um corretivo da alegria, cujo excesso pode engendrar o orgulho".

Não há nada mais importante que o balanço entre a alegria e a tristeza.
Gente que se pensa alegre demais não sabe fazer poesia. Não é o que diz o Vinícius?

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não


Viva Machado de Assis.
É com ele que eu vou nos próximos meses.

5 comentários:

Sandra Leite disse...

Ronaldo

Você tá demais: Chico, Machado, Jason, Vinícius, só gente da melhor qualidade.

De tudo só temo uma coisa: o culto à tristeza como única forma de poesia. Talvez quando estamos tristes ou melancólicos - e similares - ficamos mais focados nos nossos sinais.

Já a alegria te convida pra fora, é outro chamado.

Em que pese ser Vinícius tenho a ousadia majestosa de dizer que o caminho para a poesia não é único. Quem decreta caminhos não faz poesia. Poesia é arte, é vida; é dinâmica. Mosaico de nossos encontros e desencontros.

De qualquer maneira, adorei seu texto. Adoro o estilo Ronaldiano.



PS: pra provocar o Jasao: Daniel Piza se diz Machadiano :)

Edu disse...

Caro Jornalista-Machadiano,

Similitudes nos congraçam.
Como você, não ouso emitir muitos juízos. Ainda mais quando nos rondam especialistas doutos.
Como você, também me questiono o que um adolescente faz com Machado. Conseguinte, da mesma sorte, coloquei-me a reler. Atônito percebi que ou era analfabeto ou realmente Machado é proibido para menores.
Talvez não sejam só os olhos de ressaca de Capitu que só passam a enxergar com a idade.
Alvíssaras

Edu disse...

Caro Jornalista_triste,

Agora sentemo-nos e falemos da tristeza machadiana. Da minha, da sua. Tristeza que comungamos. Sentimento que nos faz humanos. Vinícius, em seu primeiro livro, ainda parnasiano e mexicanamente dramático, fala que a tristeza é nossa porta para o mundo adulto. Quem sabe não seja isto que faz com que a leitura de Machado se revele outra, com o tempo. A tristeza abre gavetas na percepção.
“Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Não se faz um samba sem tristeza. Não haveria poesia sem ela. Mas, a esperança de toda tristeza é um dia não ser mais triste não.
E hoje é 6af, dia de deixar a tristeza no escritório, escondida hibernando com o computador.
Um ab

Jasão disse...

Memórias póstumas é impagável, cara. Leia logo.

Quando você reler o Dom Casmurro, vai ter a sensação de que está lendo outro livro, totalmente diferente daquele que leu na adolescência.

Não quer dizer nada mas, dos 9 romances do machado, Helena é o que eu menos gosto. Mas veja bem: eu gosto. Só acho excessivamente melodramático...

Dos 4 primeiros romances, gosto mais de Ressurreição, Iaiá Garcia, a mão e a luva e por último Helena.

Dos 5 últimos, gosto de MPBC, Dom Casmurro, Quincas Borba, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, por último.

Se resolver passear pelos contos, não tem erro: Papéis avulsos é o melhor começo...

Danilo disse...

Figura, estou gostando de ver a frequência com que tem escrito.

Esse lance de obrigar adolescente ler Machado faz isso... Ronaldo Martins só volta a ter interesse no escritor, através de um amigo apaixonado, depois de anos e anos que havia lido.