quinta-feira, 12 de junho de 2008

Naquela mesa



Admito que tenho um gosto musical, diria, eclético.
Com esta história de ficar falando de reminiscências, me lembrei de uma canção antiga, da qual meu pai gostava muito.

Veja se você já ouviu este verso: "naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim".

A canção foi feita pelo Sérgio Bittencourt, em homenagem ao pai, Jacob do Bandolim, o homem que transformou a história do bandolim na música brasileira.

Eu não sei qual era a falta que meu pai sentia ao ouvir esta música. Infelizmente, nunca conversamos sobre isso. Mas, para mim, esta canção acabou se tornando um símbolo da falta que eu sinto dele.

A mesa é o local em que nossas faltas doem mais. Afinal, é na mesa que nos tornamos completos. Ao redor do pão, do vinho e dos amigos, temos a sensação de que vale a pena viver. Não foi por outro motivo que Jesus Cristo escolheu ser lembrado ao redor da mesa: "todas as vezes em que vocês beberem deste pão e comerem deste vinho, se recordarão de mim".

É por isso que, na mesa, sentimos tanta saudade daquilo que nos falta.

 Nelson Gonsalves - Naquela Mesa - Nelson Gonsalves - Naquela Mesa


NAQUELA MESA

naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor
naquela mesa ele contava histórias
que hoje na memória eu guardo e sei de cor
naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã
eu não sabia que doía tanto
uma mesa num canto, uma casa e um jardim
se eu soubesse o quanto dói a vida
essa dor tão doída, não doía assim
agora resta uma mesa na sala
e hoje ninguém mais fala do seu bandolim
naquela mesa ta faltando ele
e a saudade dele ta doendo em mim
naquela mesa ta faltando ele

8 comentários:

Anônimo disse...

Houvi esta música me emocionou...por que trata de falta de algo...a carência de algo...hoje em dia e comum não conversar sobre isso...

Anônimo disse...

Bonita a simologia em torno da mesa.

O entorno e a simbologia, se é que me entendem...

Sandra Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandra Leite disse...

Uau, Ronaldo!
Você sempre é surpresa...acho que nossas ausências nos acompanham sempre, como essa saudade do seu pai agora!
Meu pai adora essa música. Diz ele que lembra do meu avô. Talvez seja uma canção de lembrança de um tempo que não volta mais. Mas acompanho o Jasão, gostei muito do texto:
"É por isso que, na mesa, sentimos tanta saudade daquilo que nos falta"
Aquilo que nos falta nos acompanha...

Ronaldo Martins disse...

É, meus caros, vou mudar o nome do meu blog para "O baú do Ronaldo"

Anônimo disse...

Caro Jornalista-Saudoso-in-Extremis,

Estou ficando preocupado com você e estes posts sobre o passado. Usando meu curso rápido de psicologia por correspondência do Instituto Universal Brasileiro , eu diria que você está pensando muito no futuro. A gente fica olhando o passado, quando está em momentos de pensar o futuro. Cuidado, o passado é uma invenção nossa que reutilizamos, conforme a conveniência. Se conhecimento do passado fosse suficiente, arqueólogos e legistas salvariam o mundo
Mas, fora minha preocupação com vossa pessoa, gostei muito do post. Não é muito tranqüilo pra mim pensar nesta brega-poesia do Bittencourt. Brega, bonita, singela e incisiva.
Muita gente falta ao redor de nossa mesa. As vezes porque já se foi, como nossos pais, as vezes porque a vida nos separou delas; as vezes porque não conseguimos convida-las e atraí-las para a mesa. Daí porque a ceia é “in memorian”, é memorial, é símbolo do que não está ali. Mas também é símbolo de reencontro, Jesus disse para comermos e bebermos para lembrar dele até o dia em que não precisaríamos mais lembrar, porque estaríamos juntos.
Assim, continuo minha ceia diária celebrando os que estão ao redor. Procuro tentar não ver somente as cadeiras vazias que há. Mas, acima de tudo, celebro a mesa na esperança que me consola de que um dia naquela mesa não faltará mais ninguém.
Um abraço
Edu

Borges, sobre a ausência do pai

El único campo en que los términos no se confunden. Siempre está a mi lado la sombra de haber sido un desdichado. La otra muerte. Mi muerte, la muerte de Borges. En alguna de las dos escucho(..)la voz de mi padre que está muerto. Sólo en la realidad pasan esas cosas, dicto. Esta tarde he decidido que mi hálito nunca más empañe el clausurado espejo. Esta tarde quiero –tanto deseo – (…) hasta el fin de su jornada, como en un espejo en mí se repito (…). ¡Qué tristeza! Ser casi como la tierra y tener todavía esperanza de andar, de amar(..) El diálogo, finalmente, se convierte en monólogo(...)Es otra vez la hora crepuscular en que busca la muerte. Yo me detendré como en un retrato (...)Padre, estoy por terminar tu novela. No he podido hacer más que un borrador, como es toda vida.

disse...

Eita, que me emocionei!!!
Muitas saudades de meu pai a mesa também, um espanhol forte e sorridente que gostava da fartura e docilidade em familia!

Abço!

Unknown disse...

Eta que da saudades naquela epoca do quando o pai reunia os filhos aos domingos
com aqueles quitutes que ele mesmo preparava ele gostava muito de ver todos juntos isso faz muita falta e traz muita saudades grande beijo
desua mana que te ama muitoooooo