quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Reino de Deus


Lendo uma destas revistas de companhias aéreas, encontrei um artigo de João Sayad, ex-ministro do planejamento. No artigo, ele não falava sobre juros, PIB ou inflação, mas sobre outro tema: Felicidade (esse era o título do artigo). O que me chamou a atenção foi o trecho que reproduzo a seguir:

“A vida está organizada como um campeonato de futebol, onde todos desejam levar a Copa para casa. Desde os gregos, a civilização ocidental é competitiva. A metade cristã da civilização ocidental, o Sermão da Montanha (bem aventurados os humildes, pois deles é o reino dos céus), é assunto de domingo. Só os hippies estiveram interessados no reino dos céus. Caíram de moda. Invejamos e rivalizamos com o próximo. Pai, Abel, a mulher do pai, o país vizinho.”

A minha primeira reação foi de uma certa indignação. Como pode um economista se referir à proposta de solidariedade do Reino de Deus como algo fora de moda? Porque, em outras palavras, é isso que disse Sayad: na nossa sociedade competitiva, individualista e pós-moderna, na qual as pessoas querem apenas vencer umas às outras, não há espaço para a lógica do Reino.

Mas, será que ele não fez somente uma constatação da realidade?

Para nos deter apenas no exemplo citado pelo economista João Sayad, vejamos o que nos mostra o Sermão da Montanha:

- “Felizes os que choram...”: o Reino de Deus não oferece apenas a possibilidade das bênçãos em um modelo “self service”, no qual recolhemos aquilo que parece ser direito nosso. Para carregar a cruz de Cristo é preciso estar disposto a enfrentar as dificuldades que podem surgir no caminho.

- “Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros...”: ao contrário do conceito disseminado em nossa sociedade, no modelo de Jesus não há espaço somente para o que aprenderam mais, tiveram acesso às melhores escolas, nasceram em famílias da classe média e, por isso, são chamados de competentes. O Reino de Deus é espaço de solidariedade, onde fracos e fortes têm o mesmo valor.

- “Felizes as pessoas que trabalham pela paz...”: não dá para anunciar o Reino e defender o estado de guerra, no qual as pessoas fazem de tudo para ultrapassar o próximo, visto sempre como concorrente. Não dá para ser cristão sem promover a paz.

Acho que João Sayad está certo. O Reino de Deus está aprisionado nos cultos.

6 comentários:

Anônimo disse...

É meu amigo. Muito provavelmente você tenha razão. A minha única esperança é saber que acima de tudo e todos há um Deus, que não pertence ao nosso reino e ao nosso tempo e que, por acreditar tanto no Seu projeto fez-se homem como nós para nos mostrar que este um outro Reino é possível. Quem sabe a caminhada daqueles que acreditam neste projetam, tornem 'falsa'a premissa do Sayad e de todos os que como ele acreditam nisso. Aos que creem na proposta de um novo Reino, onde a justiça correrá como um rio perene, só resta lutar com as armas da fé, da esperança e do amor.

Anônimo disse...

errata:

No comentário anterior há dois equivocos:

Onde se lê, "nos mostrar que este um outro Reino é possível", dever-se-á ler: "nos mostrar que um outro Reino é possível". E onde se lê: "daqueles que acreditam neste projetam", dever-se-á ler: "projeto".
Não sei se existe possibilidade de editar... se não houver, fica a errata mesmo.

Ronaldo Martins disse...

Tá valendo, camarada.

Anônimo disse...

Caro Ronaldo,
Como vc, Sayad gosta das metáforas futebolítiscas (a q eu aplicaria a ele é do excelente comentarista q, qdo foi técnico, deu vexame pq os jogadores não entendem o q ele fala:->).
Sobre o RD, eu sempre tive dificuldades c/ este discurso de:"sinais" do Reino, "pedaços" do RD, "embaixadores" do RD e etc...Pq? Pq eu acho q o RD é o "totalmente outro", é quilo q NÂO temos, é exatamente a antítese de qq projeto humano. Até o dos hippies pq , no fundo, a busca é por alegria e prazer pessoal e celebrar a paz entre a injustiça equivale a congelar a situação injusta; E o RD é Paz, Justiça e (só DEPOIS) Alegria.
Assim, meu caro jornalista cansado da objetividade (pensei q nenhum jornalista fosse chegado à objetividade:->), a tendência da humanidade é contruir o ANTI-RD.
Um ab
eDu

Ronaldo Martins disse...

Mas eu entendo que os sinais são estas coisas de que você está falando. Os sinais do Reino não têm nada a ver com coisas previsíveis. Nem por isso deixam de ser sinais. Só não se apresentam de maneira extravagante. Acho que o "meu" RD é como o seu.
Abs,
Ronaldo

Sandra Leite disse...

E lá nos encontraremos aliás, aqui no "RD"