quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Casinha branca


Você já teve a experiência de enxugar gelo?

É assim que eu me sinto nas sextas-feiras de certas semanas. Como esta, por exemplo. Faço mil coisas, ando pra lá e pra cá, mantenho a cabeça a mil e, no final, sinto que não saí do lugar.

Nestas horas, lembro-me de uma frase de Kierkegaard, que me foi apresentada pelo Rubem Alves, para nunca mais sair da minha cabeça: "pureza de coração é desejar uma só coisa".

Acho que acredito firmemente nisso. Cada ser humano deveria desejar uma coisa apenas durante toda a existência. Não importa o quê, mas um desejo só nos basta.

Não vou tentar resumir aqui o meu desejo. Não seria capaz. Exatamente porque, nestes momentos, sinto carregar comigo o sentimento do autor de Eclesiastes (um dos mais filosóficos textos bíblicos): "tudo é correr atrás do vento".

Ainda vou descobrir uma maneira de não me desviar do meu desejo.

Não estarei onde não se possa ver uma luz, não darei ouvidos a palavras que não construam sentido, não gastarei minhas forças em projetos que não valham a pena.

Quero sentir as marcas de cada passo que eu der, quero a paz de quem caminha ao encontro da coisa desejada.

Talvez eu queira mesmo é achar a minha "casinha branca", este arquétipo tão brasileiro de uma vida cheia de sentido.

 Gilson - Casinha branca


CASINHA BRANCA (Gílson)

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que não vejo em minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho a perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer ...


6 comentários:

Anônimo disse...

Caro Jornalista-Enxugador-de-Gelo,
Será que alguém não enxuga gelo? Podemos conseguir muita coisa, mas o que ficará? A meta de amanhã. O que permanece pode não estar diretamente relacionado a nossa sensação de sucesso. Paulo talvez achasse que seu legado seriam as igrejas que ele plantava e delas, nada sobrou.
Sobraram as cartas que ele escrevia apenas pela impossibiliade de estar presente. Algumas delas, na prisão.
Talvez Paulo, vendo as igrejas que ele iniciara desabar em divisoes internas, enquanto ele só podia escrever cartas, tb achasse q estava enxugando gelo.
Nosso legado, nossa realização é de difícil mensuração. Por isto mesmo precisamos mais do descanso.
Ocupar-se do que desocupa. 6af é dia de esvaziamentos. Dia de deixar o gelo pingar
Um ab

Anônimo disse...

Tenho passado exatamente por isso.

Tá difícil curtir a caminhada.

Mas tento.

(O Eclesiastes é meu livro favorito)

Sandra Leite disse...

"Cada ser humano deveria desejar uma coisa apenas durante toda a existência. Não importa o quê, mas um desejo só nos basta"

Chega de regra, Ronaldito. Desejar é preciso, sempre. Nem que seja o desejo do desejo:) Ou então meu coração não é puro!

Ronaldo Martins disse...

Sandraaaaa. I do not believe.

Anônimo disse...

Por falar na Sandra, pessoal...

já que ela está em BH, a gente podia armar um encontro entre blogueiros...

claro que além de muita cachaça (rsrsrs...) poderíamos tirar fotos e postar nos blogs o encontro...

Tiago Soarez disse...

Ronaldo,

Concordo com vc. Também acho que cada ser humano deveria apenas um único objetivo e correr atrás dele. Já me peguei pensando nisso várias vezes.

Ultimamente tenho a sensação de estar enxugando tanto gelo, que você nem imagina!

Mas, acho que a cota de gelos está terminando!

Abração,
Boa semana!

Bossa Nova Café - textos, música e arte!