segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Como Deus ama?


Deus é amor, afirmam os textos bíblicos. Ele criou o mundo por amor.

Mas será que Deus criou porque precisava de algo para se completar? Se assim fosse, ele não seria perfeito. Entender o amor de Deus pode ser um bom caminho para que entendamos a melhor maneira de amar.

Segundo Simone Weil, “a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou-se de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. Deus negou-se em nosso favor, para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. Esta resposta, este eco que depende de nós recusar é a única justificativa possível à loucura de amor do ato do criador.
As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras”.


Alain complementa: “O novo Deus é fraco, crucificado, humilhado... Não digam que o espírito triunfará, que terá potência e vitória, guardas e prisões, enfim a coroa de ouro. Não... É a coroa de espinhos que ele terá”

Amar não é reafirmar o nosso poder.

Amar é esvaziar-se

7 comentários:

Anônimo disse...

Era exatamente por isso que eu chamava o meu finado blog de "Esvaziar das nuvens". Mesmo que por um viés pretensamente (pretensiosamente?) artístico, é na arte que eu entro em contato com as forças deste mundo.

É através da arte que eu tentava me esvaziar, esvaziar os sentidos, numa tentativa de "religare"...

Há um místico alemão, Mestre Eckhart, que dizia:
"Deus, que somente é alcançado pelo ser humano na medida em que este, assemelhando-se a Deus mesmo, esvazia-se quenoticamente no desprendimento, na palavra abgeschiedenheit. Desprender-se é o movimento para o Nada. Desprender-se provoca os interesses divinos na alma que assim se faz vazia: uma gravidade divina tende, inevitavelmente, para todo cristão que assume a postura desprendida diante da vida, do sofrimento e da morte. De tal desprendimento, portanto, chegamos ao estágio necessário da gelassenheit: a plena serenidade não estóica diante da existência. Assim como Deus é Nada, fazer-se Nada é atrair Deus a si mesmo sendo, assim, feitos como somos realmente: um com Deus que só é Deus na dimensão da existência, porém, não da essência e, destarte, O mestre nos remete à origem humana e leva-nos a sermos o que já somos desde sempre..."

Desprendendo-me, busco uma outra forma de "religare" que me interesse mais que o meu antigo blog...

abraços!

Anônimo disse...

Puxa vida!

Não sei o que acho mais bonito, se o texto do Ronaldo ou o comentário do Jasão.

Show de bola, ambos!

E nós, mortais, ficamos aqui embaixo só bebendo na fonte!

Ronaldo, aproveitando o ensejo, entrei no blog da Sandra Leite e é realmente lindo. Recheado de poesia e amor!!! Ainda não tenho é coragem de fazer quaisquer comentários... a poesia dela é filosófca demais. Mas aquela rosa tatuada....hummmmmm!

Xandão

Ronaldo Martins disse...

Caro Jason,
Que história é esta de finado blog? Preciso beber na sua fonte para conseguir escrever alguma coisa. Não abandone a blogosfera.
E o Alexandre precisa logo fazer o blog dele.
Abs,
Ronaldo

Anônimo disse...

Caro Jornalista-Teõlogo

O nível de discussão e comentários do blog está subindo além de minha vã filosofia, mas mesmo sem poder fazer um comentário com a profundidade do Jasão, arriscarei um.
Meu problema é com um dos pressupostos que você usa: se Deus é perfeito não precisa de ninguém. Este axioma, que poucos questionam, não é necessariamente bíblico, é da filosofia grega clássica que define perfeição como estado estático, pleno e total. Não sei se os poetas e demais escritores bíblicos tinham este mesmo conceito. Para ser perfeito é necessário não precisar de nada? Não tenho certeza nem que sim, nem que não. Apenas acho que devemos manter a possibilidade de que a perfeição de Deus necessitasse sim do homem para amar e se relacionar, que a perfeição de Deus não era completa, mas perfeitamente amorosa e assim, incompleta. Isto daria uma dimensão ainda mais misteriosa ao amor quando aplicado a Deus.
Um ab
edU

Ronaldo Martins disse...

Edu,
é uma tese. Mas precisaremos de muitos posts e da ajuda do Jason para desvendar este mistério. Vou pensar no assunto, mas... é muito para a minha filosofia de botequim.

Sandra Leite disse...

Ronaldo,

Em 1o lugar quero PROTESTAR ao fim do blog do Jasão. Como assim? Era um presente pra nós....Volta, Jasão!
Em 2o lugar, Alexandre, faça o favor de comentar da próxima vez que visitar o Isso é Bossa Nova:)Poxa, o blog é para vocês também e adoro receber novos leitores. Faça o favor, tá? ;) Se você soubesse como aprendo com cada comentário. É sempre uma outra leitura do mesmo assunto. E normalmente melhor que o post ;)
Terceiro, belíssimo texto, Ronaldo! De uma profundidade ímpar! Deus de fato não precisa de nós, sua soberania é inquestionável.
Mas vai entender o pq Dele querer tanto a nossa participação no processo da humanização do ser embrutecido pelo sistema?
Adorei esse trecho do comentárrio do Jasão " É através da arte que eu tentava me esvaziar, esvaziar os sentidos, numa tentativa de "religare"..." Lovely!
E você tirou meu chão, Ronaldo, ao dizer :
"Amar não é reafirmar o nosso poder.Amar é esvaziar-se"

Texto dificil de comentar....

Alvim Dias disse...

Belo texto, belos comentários.
O amigo Alexandre Klen me indicou seu blog tecendo muitos elogios, vejo que ele estava certo!
Ouvi do meu blog agora:
"Quando eu crescer quero ser igual a ele, papai!! " rsrsrs

Abraços e parabéns!

Alvim Dias

Blog "Inté Zé!" - Blasfêmeas costumeiras de uma mente insana.
http://inteze.blogspot.com