quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O amor, segundo Neruda



No blog do meu amigo Jason (O esvaziar das nuvens), encontrei um texto interessante de Nietzsche: "Ao iniciar um casamento, o homem deve se colocar a seguinte pergunta: você acredita que gostará de conversar com esta mulher até na velhice? Tudo o mais no casamento é transitório, mas a maior parte do tempo é dedicada à conversa".

Para conseguir o que propõe Nietzche, é preciso saber amar sem desejar apenas o que nos preenche a falta, como pensava Platão. Acho que a maioria dos amantes tem dificuldade para lidar com isto: querer aquilo que está ao nosso lado, aparentemente antigo, desinteressante, coisa que parece não preencher vazio nenhum. Desejar a mesma mulher ou mesmo homem por toda a vida. Quando bate esta sensação, eles logo dizem, como motivo para o adeus: "o amor acabou".

Que tipo de amor? Com certeza, não é o amor de que fala Pablo Neruda:

Desta vez me deixa ser feliz
Nada aconteceu a ninguém,
não estou em parte alguma,
simplesmente sucede
que sou feliz
pelos quatro costados
do coração, andando,
dormindo ou escrevendo.
O que posso fazer, sou feliz.
Tu a meu lado na areia,
é areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma:
canto e areia
o mundo
é hoje a tua boca;
me deixa
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque
respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e sua frescura.
Hoje me deixa só a mim
ser feliz,
como todos ou sem todos,
ser feliz
com a relva
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz
contigo com a tua boca,
ser feliz.

8 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado pela referencia, Ronaldo - e feliz aniversario!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Gosto desse, da Adelia Prado, tambem sobre o amor -

AMOR FEINHO

"Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho

abraço do Jasao

Ronaldo Martins disse...

Adélia Prado é tudo de bom.

Anônimo disse...

Ronaldo... já que você sumiu de todos os meios de comunicação da VM.. meus Parabéns via blogg. Felicidades !! E nada melhor do que comemorar o seu dia falando e vivendo o amor.. abraços cynthia franco

Anônimo disse...

Caro Quarentão,

Até vc se voltando para a poesia? Talvez seja a data festiva, mas tb reflexiva, que fez vc voltar seu post do dia 19 para o pensamento sobre a solidão/companheirismo, sobre o futuro...e quando se tratam destes assuntos, a poesia é + expressiva do que a filosofia.
E dos filósofos que li, o + poeta é Nietzsche. Poeta sim, no sentido de fazer uma filosofia epidérmica, passional. Tão orgânica que irracional. Tão nua, que cínica.
Bem, se a filofia é tb poesia, construçào de mundos que se desejam... um poema de seu conterrâneo mineiro protestante:

Desejos
(Afonso Romano Sant'Anna)
Disto eu gostaria:
ver a queda frutífera dos pinhões sobre o gramado
e não a queda do operário dos andaimes
e o sobe-e-desce de ditadores nos palácios.
Disto eu gostaria:
ouvir minha mulher contar:
-Vi naquela árvore um pica-pau em plena ação,
e não:-Os preços do mercado estão um horror!

Disto eu gostaria:
que a filha me narrasse:
-As formigas neste inverno estão dando tempo às flores,
e não:-Me assaltaram outra vez no ônibus do colégio.

Disto eu gostaria:
que os jornais trouxessem notícias das migrações
dos pássaros
que me falassem da constelação de Andrômeda
e da muralha de galáxias que, ansiosas, viajam
a 300 km por segundo ao nosso encontro.

Disto eu gostaria:
saber a floração de cada planta,
as mais silvestres sobretudo,
e não a cotação das bolsas
nem as glórias literárias.

Disto eu gostaria:
ser aquele pequeno inseto de olhos luminosos
que a mulher descobriu à noite no gramado
para quem o escuro é o melhor dos mundos.


Ps- Só fiquei um pouco preocupado com este papo de q vc, mesmo que recém chegado aos "enta, já esteja pensando que o + importante de um casamento é a "conversa". Deixa a conversa para daqui a a uns 30 anos...qdo todo o resto (e que resto!) já nào for tão interessante,...:->

Anônimo disse...

+ uma coisa...
para ser fiel ao estilo do blogueiro, um apaixonado por música popular, um versinho de Frejat, inspirado (quem sabe?) no assunto do post:
"por você...eu mudaria até o meu nome,eu viveria em greve de fome
desejaria todo dia a mesma
mulher! "

Renato Rios Neto disse...

Olá Ronaldo,
meu nome é Renato Rios Neto, sou produtor do Plantão da Cidade, da rádio Itatiaia, o programa apresentado pelo Carlos Viana.
Eu estava querendo entrar em contato com você, mas não to conseguindo achar o seu telefone. Se você me puder enviar pelo e-mail: plantaodacidade@bol.com.br
eu seria muito grato.
Desculpa pela invasão aqui no seu blog!
Ah, e parabéns pelo blog, os textos estão muito bacanas!
abs,
renato