
Na madrugada desta quinta, 23, 25 presos morreram queimados em uma cela da cadeia pública de Ponte Nova, interior de Minas, depois de uma briga entre gangues rivais. Até o final da tarde não haviam sido divulgados os nomes das vítimas. Não houve clamor da opinião pública por esta omissão, como acontecera no caso do acidente com o avião da TAM, há pouco mais de um mês (Nem a turma do movimento Cansei apareceu).
Gosto de refletir sobre a nossa relação com os nomes. Me lembro que na minha cidade natal, Alvarenga, os homens eram reconhecidos pelos nomes das esposas. Meu primo era o Zé da Gracinha. Acho que as mulheres professoras, como a Gracinha, tinham mais valor naquela sociedade em que faltavam ofícios mais relevantes para os homens.
Atrás dos nomes se escondem as imagens e os atributos das pessoas.
Quem nunca emprestou um codinome à pessoa amada? “Amor”, “bem”, “anjo” – são alguns dos tratamentos preferidos por quem ama com paixão. Se eu pronuncio o nome, ou o codinome, trago a pessoa para perto de mim.
Quando a gente não dá valor aos nomes e transforma os sujeitos em estatísticas (feito os presos queimados vivos), diz, ainda que inconscientemente: “esta pessoa não tem parte conosco, não tem direito a um nome que a traga para junto de nós”.
Gosto de refletir sobre a nossa relação com os nomes. Me lembro que na minha cidade natal, Alvarenga, os homens eram reconhecidos pelos nomes das esposas. Meu primo era o Zé da Gracinha. Acho que as mulheres professoras, como a Gracinha, tinham mais valor naquela sociedade em que faltavam ofícios mais relevantes para os homens.
Atrás dos nomes se escondem as imagens e os atributos das pessoas.
Quem nunca emprestou um codinome à pessoa amada? “Amor”, “bem”, “anjo” – são alguns dos tratamentos preferidos por quem ama com paixão. Se eu pronuncio o nome, ou o codinome, trago a pessoa para perto de mim.
Quando a gente não dá valor aos nomes e transforma os sujeitos em estatísticas (feito os presos queimados vivos), diz, ainda que inconscientemente: “esta pessoa não tem parte conosco, não tem direito a um nome que a traga para junto de nós”.
7 comentários:
É mesmo difícil manter uma crônica diária... mas muito melhor do que o falso milk-shake-espeare!
Quanto ao texto, é verdade... não dar, ou simplesmente omitir nomes apenas corrobora com nosso ato contínuo de transformar pessoas constantemente oprimidas em meros anônimos invisíveis - porque não queremos mesmo os ver.
Ronaldo,
Sem querer descupar nossa omissão, também a imprensa tem papel fundamental nessa denúncia. Porque sabemos que as mortes continuam nas rodovias, nos presídios, mas parece que não queremos nos envolver com isso.
É a crise que vive a classe média, refém de si mesma.
Parabéns pelo texto e continue ....
E me visite também viu? :-)
abs,
Sandra
Caro Ronaldo,
Nomes? Todos já demos um NOME aos que estão presos: Bandidos. Para a sociedade, nós, isto basta. Poupa-nos de pensar nos nossos crimes diários e reduz nossa idignação com os demais "bandidos" que não são pegos. Nos poucos (geralmente pobres q cometeram crimes contra não-pobres)apanhados, projetamos todo nosso desejo de justiça: que na definição humana é que os outros paguem os erros, os mesmos que, quando somos nós ou os amigos a cometer são apenas deslizes perdoáveis. Daí, no fundo, não só nãoi nos importamos, ficamos felizes, qdo 25 morrem queimados.Sandra culpa a imprensa.É, esta é nossa tendência: acharmos alguém para culpar (os bandidos, a imprensa, os políticos, etc) pela impiedade. A percepção do outro é o q alavancou o ser-humano à modernidade, a perda desta nos levará à barbárie.
1 ab
Concordo que nós somos os responsáveis. Mas estamos sempre ocupando um papel, inclusive como jornalistas. A minha preocupação hoje é tentar entender como nós, classe média, abordamos a questão.Tenho a impressão de que Edu fala da mesma classe média que Sandra, seja lá o que for isso. Eduardo, como sociólogo brilhante, pode nos explicar.
papai,
por que você fez um site se você já
tem e-mail?
bejos,
Júlia
Vai, Ronaldo!!!
Quero ver a resposta pra Julia....:-)
Muitas perguntas, poucas respostas... :D
sandra
Edu,
Classe média + imprensa = efeito bombástico!
Não são os únicos, mas com uma tremenda responsabilidade!
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