
Lendo uma destas revistas de companhias aéreas, encontrei um artigo de João Sayad, ex-ministro do planejamento. No artigo, ele não falava sobre juros, PIB ou inflação, mas sobre outro tema:
Felicidade (esse era o título do artigo). O que me chamou a atenção foi o trecho que reproduzo a seguir:
“A vida está organizada como um campeonato de futebol, onde todos desejam levar a Copa para casa. Desde os gregos, a civilização ocidental é competitiva. A metade cristã da civilização ocidental, o Sermão da Montanha (bem aventurados os humildes, pois deles é o reino dos céus), é assunto de domingo. Só os hippies estiveram interessados no reino dos céus. Caíram de moda. Invejamos e rivalizamos com o próximo. Pai, Abel, a mulher do pai, o país vizinho.”A minha primeira reação foi de uma certa indignação. Como pode um economista se referir à proposta de solidariedade do Reino de Deus como algo fora de moda? Porque, em outras palavras, é isso que disse Sayad: na nossa sociedade competitiva, individualista e pós-moderna, na qual as pessoas querem apenas vencer umas às outras, não há espaço para a lógica do Reino.
Mas, será que ele não fez somente uma constatação da realidade?
Para nos deter apenas no exemplo citado pelo economista João Sayad, vejamos o que nos mostra o Sermão da Montanha:
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“Felizes os que choram...”: o Reino de Deus não oferece apenas a possibilidade das bênçãos em um modelo “self service”, no qual recolhemos aquilo que parece ser direito nosso. Para carregar a cruz de Cristo é preciso estar disposto a enfrentar as dificuldades que podem surgir no caminho.
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“Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros...”: ao contrário do conceito disseminado em nossa sociedade, no modelo de Jesus não há espaço somente para o que aprenderam mais, tiveram acesso às melhores escolas, nasceram em famílias da classe média e, por isso, são chamados de competentes. O Reino de Deus é espaço de solidariedade, onde fracos e fortes têm o mesmo valor.
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“Felizes as pessoas que trabalham pela paz...”: não dá para anunciar o Reino e defender o estado de guerra, no qual as pessoas fazem de tudo para ultrapassar o próximo, visto sempre como concorrente. Não dá para ser cristão sem promover a paz.
Acho que João Sayad está certo. O Reino de Deus está aprisionado nos cultos.